Catando do chão

Hoje eu voltei, e tudo o que eu queria antes eram paredes com crianças pregadas de narizes sangrando tinta guache. As paredes brancas nem sabiam a luz que precisavam ou se tinham de esconder seus riscos e suas sujeiras; luz de lanterna marca um alvo, luz amarela expõe o palco, mas não era nada disso que queria... Necessitava da força encontrada na dor. Dor de passados que não passam.

Embora tudo ainda me atormente, um hoje penetrou pelo meu sossego até chegar na minha zona de ação, e minha atitude perante a vida foi fazer o que fosse mais fácil de fazer, porém de primordial feitura. Qualquer energia à frente era bem-vinda. No teen-against! Sem berços desovando filhotes da raiva sem-noção. Um diálogo ainda pobre, carregado da munição tola de toda essa juventude do passar dos anos. Acabou aqui! E o que temos? Quem somos e qual nossa marca - nem perguntas conseguem ser. Tínhamos que ser marcados antes que tentassem tirar nossa cara e substituir por uma engrenagem sorridente de ordem. Perdemos a paz na ordem e a ordem se fudeu. Estalei os dedos sob o comando do cérebro. Antes, quando vivi o hoje que vai indo, saí de casa apressado pra fazer.

E fiz. Lembro de ter feito alguma coisa, ouvido alguma coisa... Falado um pouco talvez, não mais que duas palavras e relaxado pelo momento de não precisar pensar no quê. Saí de lá bem. Bem, bem, bem nem ele que me queria tão bem soube ser merecedor do bom que todo o bem pode trazer. Mas caminhei. Eles me seguiram e eram muitos, juntos entre os seus risos debochados, riam de mim. Cavei o que de ridículo trazia na minha aparência, mas fui atormentado pela possibilidade de estarem vendo além disso. Não tinha nada por fora! Viam meu ridículo interior! Toda babaquice e caretice que nunca me cansou. Continuaram pelo meu mesmo caminho; me assustavam com medos individuais. Ao invés disso (vários medos?! sério?) pensei na minha tarde e no que ela fez de mim. Eu fiz por mim. Cheguei em casa por passagens diferentes das deles. Tranquei a porta, entrei no quarto, coloquei Sonic Youth, fingi que tinha um cigarro pra fumar e amigos pra chegar, fucei folhas em branco, escrevi bobagens enumeradas pelas paredes e coloquei tinta no meu nariz. Bum! A revolução estourou do outro lado da linha; chorei, chorei, chorei... e não me custou um centavo.

Não sei se vai/vou continuar.

J Jesse
Enviado por J Jesse em 17/07/2010
Código do texto: T2384144
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