Conquistas
Quando conversava com meu irmão, a respeito de filhos, disse-me que não é normal que gostemos mais de um filho que de outro. Pensei, “será que não?”, e deixei a conversa sentindo que havia mais por saber.
Não demorou, voltou-me à cabeça a ideia da preferência quando lia o texto de Kehl sobre a Delicadeza. Para a autora, a delicadeza é uma construção social, não uma condição inata. É natural ao homem responder de forma livre aos estímulos que recebe, podendo ser carinhoso, agressivo, indiferente, isso fica claro quando lembramos de uma frase muito famosa por aí: “quem diz o que quer, ouve o que não quer”. Ou seja, se você estimula alguém de uma forma considerada por ela negativa, prepare-se, porque será vítima de réplica. Isso é agir naturalmente, isso é inatismo.
Na esteira do pensamento de Maria Rita Kehl, acredito que gostar igualmente também não é algo natural. Gostamos de algo porque este algo tem representatividade. Esta representatividade é um estímulo interior que nos proporciona algum prazer, a seiva bruta do nosso bem-querer, e a recorrência desta experiência constrói vidas inteiras.
Se nos abandonamos à experiência de viver os filhos, sem um princípio, apenas pela chance de, então nos colocamos no mundo dos sentidos, afastamos a razão do processo e agimos de acordo com o interesse próprio. Bem, numa relação com crianças, seres incapazes de se impor sobre um adulto em vários aspectos, esta relação de interesse próprio é um grande autoritarismo. O princípio fundamenta a igualdade, a clareza, deixa claro o projeto em que se vive e que mais tarde será tradição familiar.
Como a delicadeza, gostar igualmente é uma conquista da nossa mágica