Polemica II

Polemica II
 
        Sou o que meu cérebro é, e como ele reage biologicamente.
 
        Respeito posturas mais transcendentais que associam o meu eu, o que sou, a agentes externos, ou pelo menos imateriais e não imanentes, entretanto creio ser esta interpretação falaciosa. Evidências neurocientíficas, cada vez mais corroboram esta minha percepção. Cada um tem o direito e a obrigação de buscar suas próprias evidencias. O que não temos o direito é de fingir que elas não existem, somente porque retiram de nosso eu, aquele algo mais, que acreditamos ser nosso diferencial em relação aos demais seres do reino animal.
 
        Sou, o que meu circuito neural, e seus agentes eletroquímicos e hormonais fazem de meu cérebro. Ele é tão complexo, possuindo uma composição plástica tal, que sendo o meu gestor, me permite atuar sobre ele, e alterar seu status composicional, e assim reprogramá-lo, mesmo que parcialmente, mas o suficiente para que eu possa também ser o que EU deseje conscientemente ser.
 
        Eu sou imanente, o meu eu é reflexo desta imanência, esteja eu  material, mental ou filosoficamente falando.
 
        Isto não diminui em nada a nossa importância enquanto pessoas, ou entes humanos. Isso aumenta ainda mais nossa responsabilidade, pelo estado social de nosso mundo, posto que somos os únicos responsáveis diretos pelo estado de desordem social e humana que nossa sociedade hoje representa.
 
        Alguns amigos diriam que o livre arbítrio nos levou a este estado lamentável de dignidade humana, eu diria que foi nosso desamor, nossa alienação social e política, nossos interesses, nossa vaidade, nossas mesquinhas pretensões a sermos imagem de algum deus, e enfim nossa espera por uma solução final, alicerçada em uma esperança passiva e egoísta, onde a nossa felicidade está desassociada da felicidade coletiva, onde nossa dignidade esta desvinculada da dignidade de todos, onde nosso futuro independe do futuro dos outros.
 
        Somos sociais. Somos coletivos, Somos uma simbiose de vidas, onde nossa mãe terra é o suporte primeiro. Somos enfim responsáveis pelo estado atual em que vivemos. Nunca nos revoltamos verdadeiramente contra tudo que nos impele a animalidade. Até mesmo, em geral, nossa ética vem em segundo lugar, e a utilizamos para justificar nossas posições, varrendo para debaixo do tapete aqueles marcos éticos que nos limitariam as ações indignas socialmente.


Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 14/07/2010
Reeditado em 14/07/2010
Código do texto: T2377299
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