CORAÇÃO MOVEDIÇO

É única a compulsão que culmina na vital Poesia. Aquela que desemboca no mísero poema, vil de humanidades, precário de universalidades, porém denso de vida, de pesares, e algo de amor ao Coletivo. É nesse universo ardente que o cadinho humano se registra sob a carapaça do alter ego, o lume capaz de fazer relato poético. Costumeira é a possessiva delação do viver, o singelo relato amoroso que nunca se abrirá para o mistério do Outro porque já tem dono. Todavia, é ele (o pobrezinho!) que transpõe o coração movediço e se esborracha no mundo dos signos. E ali, num universo tragicômico, a Palavra pede socorro – Inferno e Paraíso – como Beatriz, a musa de Dante, que mesmo amada e laureada, mora na divinal comédia. Ao peso dos dias, impiedosamente safamo-nos ao dar voz ao coração que se estilhaça: nuvem. O fogo eterno dos desejos consome a todos.

– Do livro O NOVELO DOS DIAS, 2010.

http://www.recantodasletras.com.br/pensamentos/2374362