Sua Confusão, Minha Ilusão
Olho os escombros. Não sobrou nada. Só fuligem fodida, só sucata amassada, só desalento e histórias findadas pela tragicomédia da vida. Eu joguei fogo, eu roubei, estuprei, violei. Eu alimentei as chamas da destruição com a minha vaidade; com o manto quente da minha vaidade. Cometi crimes, adultérios. Procuro algum sentido olhando os escombros. Eles, os escombros, estão de um lado. Do outro o novo. Que pode virar escombro, que há de virar escombro. Já não consigo encostar no novo. Medo. Medo do meu destruidor toque de Midas. Medo. Medo da destruição abalar meus já lânguidos alicerces. Não sei até onde eles agüentam o choque das ondas. Não sei até onde eu quero nadar no mar das conseqüencias que as minhas atitudes - ou a falta delas - geram. Não sei, não sei de mais nada. Me sinto tão confuso e ninguém pode me ajudar. Nem eu mesmo. Me expus demais. Necessidade maldita de deixar ciência aos ventos. Então eu olho os escombros, como se deles fosse sair a resposta que eu preciso/procuro. E talvez eu seja merecedor da ruína. Talvez, e talvez não. Talvez eu não precise de tamanha provação. Sabe, esse desalento, essa incursão interior, essas reflexões 24-7 fazem falta quando você não precisa delas. Digo, quando elas não precisam de você, porque essas coisas a gente não escolhe; elas nos escolhem. Somos marionetes, bonecos. Dominados por algo mais forte que a mente. A mente tem que ser trabalhada para ser forte. Ou uma muralha é erguida ou a loucura chega. Não sei medir a distância dos tijolos, não sei a quantidade correta de concreto. Muro torto, a porra de um muro torto que agüenta torvelinhos mas se abala com ressacas mais fortes. Fico no limiar entre a sanidade e a cessão dos meus interiores aos desprazeres que uma aventura mal-sucedida pode gerar. Ah, merda, eu só não queria ter que...
Joy Division - Atmosphere