Cansaço...
Cansa-me desconfiar do mundo o tempo todo.
Mas, se não proceder assim, impossível será a sobrevivência
em todo esse lodo.
São risos pra todo lado, piadinhas, uma alegria fingida;
Uma “irmandade” nunca antes assistida.
É preciso entrar no jogo, e fingir-se de surdo algumas vezes.
Queria eu ser moradora do outro mundo.
Cansa-me tanta farsa, tanta brincadeira sem graça,
Tanto palhaço fingido, se disfarçando na praça.
Cansa-me fingir alegria, quando não a sinto.
Cansa-me a mentira o tempo todo.
A realidade nos consome e nem parece que temos tanta energia.
Alguns dias não percebemos em nós a mesma alegria.
Um desconforto, uma insatisfação, um sentir-se só em um mundo
De seres contrários a sua essência - ou seriam eles tão semelhantes
que não conseguimos suportar nos enxergar refletidos?
Faltam-me expressões para detalhar as cintilantes correntes
Que me prendem e me fazem um ser tão tolo.
Minha ingenuidade* me cansa.
Então me calo, duvidando de mim, e ponho na face como proteção
uma máscara de monstro e na garganta uma lança.
*O que mais me intriga é que, mesmo os conhecendo pouco e, também por isso, tendo que duvidar deles o tempo todo, gosto tanto de alguns que muitas vezes não me compreendo. Ingenuidade ou burrice?