[Abastecer a Loucura - Inacabado]
[Eta ousadia danada, sô! Depois de Erasmo de Rotterdam, e sem ter talento algum, eu escrevo sobre a Loucura! É brincadeira, brincadeirinha à-toa, viu?!]
Já se disse que a vida de um homem é aquilo em que ele pensa o tempo todo. Nesse sentido, sou alquímico - diante da Realidade, eu pratico certas transformações mágicas - eu empreendo fugas, ora pela paralisia, ora pelo salto rápido, e mais efetivamente, pelos caminhos da escrita... Fuga de quê... Medos, medos... ou ermos - se não fosse pelo medo, boa parte dos animais morreria cedo - inclusive eu, homem, animal cuja principal característica é a capacidade para o tédio, ou para a lonjura de si mesmo - o ermo! Ou alguém já viu um cavalo, ou um cão entediado?! Nem o galo que canta todo o dia, todo dia o mesmo canto...
Cada com sua loucura - e afinal, o que somos nós, entre a Loucura e o Tédio? Escrevi alhures que a vida é esta cachaça, ora amarga, ora suave, que a gente bebe sem saber por quê, e sem querer parar de beber. Será? A nossa questão é estar embriagado da vida, enleado em alguma loucura? É... e também não é? Arrisco um pouco mais, afinal, isto aqui são apenas mais palavras - É adotar uma religião? Convem citar Goethe "by way of Freud": "He who possesses science and art also has religion; but he who possesses neither of those two, let him have religion!"! Eu, ciência, tenho alguma; arte, nenhuma... mas ainda assim, religião - tenho nenhuma!
Agora, o trivial da coisa: para evitar o campear no ermo, isto é, o tédio, é preciso abastecer a própria loucura... A maneira de cada um de nós abastecer a loucura é que nos torna singulares, e a loucura tem sentidos mutuamente exclusivos - por exemplo, acho a loucura de escalar montanhas uma coisa fútil - eu alugaria um helicóptero, uai!
E alguém já me disse que essa loucura de escrever é inútil - quem vai ler o que cê escreve; ora, com a internet, todo o mundo escreve, cê é só mais um; escrevendo ou não, cê vai morrer do mesmo jeito, e logo será esquecido... para com esta mania de escrever, vai praticar bungee jumping!
Pequeno exercício de metalinguagem: Mas é assim... ou quase assim - eu fujo do ermo - é escrevendo que eu abasteço a minha loucura [de escrever]! é escrevendo que eu faço alquimia da fuga. Por exemplo: gastei um bom tempo conjuminando a idéia dessas linhas, e estive ausente de problemas... e pasmem: se não venho aqui escrever sobre a minha cachaça, eu já teria ido zanzar pela noite, ou para um bar - outra loucura ! - e a minha dieta iria pelo ralo da indisciplina!
Talvez agora, tenha algum peso a mais repetir a pergunta: o que somos nós, entre a Loucura e o Tédio?
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[Penas do Desterro, 08 de julho de 2010]