Verdades da Madrugada
A verdade que demorei a aceitar por anos é que, pura e simplesmente, eu não sinto vontade de viver. Não estou dizendo que penso em me matar, longe disso, eu só não sinto prazer pela vida como sei que deveria sentir. Que como todos deveria estar arás do meu pode de ouro, realizar meus sonhos, ou pelo menos tentar, acreditar no amor, tentar seguir e ver um caminho melhor para mim mesmo e para as pessoas que amo. Bem, para as pessoas que amo, admito que quero o melhor e a felicidade plena de todas elas, até mesmo das que me fizeram mal. A realidade é que sinto como se fosse um prisioneiro com sentença perpetua e sem direito a condicional. Não falo que me sinto culpado por algo, minhas culpas são tão comuns quantos as suas. Mas passo dia a dia sem pensar no amanhã, pois no meu modo de ver não há amanhã para mim. Estou preso, sem esperanças de sair e é assim que me sinto. Mesmo sabendo que não era para sentir nada disso, que o mundo está aí, que posso buscar algo para mim, mesmo que não seja exatamente o que iria querer, mas isso faz parte da vida. Tem gente que tem que jogar com as cartas que têm outras conseguem exatamente as cartas que querem e constroem vitórias como engenheiros constroem arranha-céus. Mas poso evitar o que sinto e é estranhamente muito difícil tentar fingir ser igual a todos e mais difícil ainda tentar sentir prazer por algo que sou incapaz de sentir. Eu não sinto prazer pela minha vida, não gosto de quem sou e nem de fisicamente como sou. Não gosto do lugar onde nasci e mais ainda mais de onde moro. Não me lembro de momentos no passado que tenho nostalgia ou de lugares que sinto falta. Às vezes nem sinto falta das pessoas, mas isso por que por circunstancias da vida me acostumei a estar só. E uma coisa que me adapto rápido é ao adeus.
Mas queira ser diferente, oh como queria ser diferente, ter sonhos como todos, ter um caminho a seguir e lutar por ele, ter uma infância rica, cheia de memórias boas (e também ruins, claro), poder ter vivido um amor verdadeiro, sem falsidades e cheio de orgulho como tantos casais jovens têm um do outro. Se eu dissesse aqui o que nunca pude viver ou sentir, coisas pequenas que todos tiveram, seria vergonhoso. Tudo meu acabou se resumindo a prazeres momentâneos da carne, do paladar ao tato. E a outras formas mais viciantes como sexo, algo que até mesmo não consegui fazer de tudo que ainda quero fazer, pois acredito que toda pessoa deve buscar o máximo em algo por si mesmo. Mesmo que seja algo de duração efêmera e solitária. Contudo foi uma das poucas dádivas da vida que me foi permite ter, apesar dos pesares e de todos meus problemas de saúde que pareciam aparecer nas piores horas da minha vida. Eu tenho que dizer... Muita coisa me foi negada por isso, tomada não dá para dizer por que de fato nunca nada foi meu. E seguindo assim até agora vejo o quanto de mim foi deixado para trás numa busca de compreensão própria, de um caminho e na tentativa tola de encontrar um sentido de mim mesmo. Já estranho o fato de ser um solitário por todos esses anos e admito que existam dias que penso como alguém pode agüentar ser e seguir assim, sem rumo, sem fé, sem destino, sem lugar e sem alguém, nem mesmo a lembrança de
De alguém do passado. Se antes me preocupava se iria ter um futuro ou não e se morria de medo de morrer velho hoje nem se quer sei o que farei no dia seguinte e a única certeza que tenho é que não estou ficando jovem a cada hora que passa. Apesar de que em pouco as horas afetam a minha rotina banal.
Então com essa verdade agora em mente devo acreditar que isso mudará alguma coisa ou que apenas cheguei a essa conclusão pela inevitável aceitação dos fatos incontestáveis sobre quem e o que sou?
É loucura dizer, mas às vezes me pergunto se realmente ainda estou aqui.