Tudo que ficou - Um pensamento solto no ar; Da série " Canções e Re- versos"
Tudo que ficou
Às vezes, essa sou eu: Um flagrante de saudade. A palavra traduzindo-se em mim.
É inexplicável, inexorável.
Vem,chega,instala-se, acontece.
Sem dia ou hora exata. Como faz o amar.
Penso musicalmente, e me vejo traduzindo ou descrevendo sobre mim, a letra da música “Tudo que vai”, de Dado Villa Lobos.
A cena é real.
E estou nela, mas posso me ver e contar assim:
Há alguns anos, este apartamento se calou da tua voz, do teu cantar desafinado, do teu cantarolar aos meus ouvidos teus versos, teu declarar de amor. Calaram-se também os meus ais, aqueles que tu me fazias exprimir só para ti.
O silêncio é fato. Eu ouço lacunas, silêncio das notas. Eu sinto e é quase palpável.
Fiquei eu, ficaram as coisas, tudo que um dia respirou o mesmo ar de ti. E cada objeto, fala para mim da tua falta.
E eu como em tantas vezes, busco entender as rupturas. Embora o sal teime em rolar pelo meu rosto.
Sei, eu vou aprender seguir sem ti.
Hoje.
Muito de ti se foi. Tem um baú imenso em mim, que guarda a memória afetiva do que fomos. Não é tátil, mas é infinito.
Ontem tinha um vazio, uma caixa de cartas e cartões, CDs, livros dedicados, quadros, agrados teus para mim. O apartamento todo era um agrado teu para mim. Isso ficou.
Hoje, ainda estou aqui, e volta e meia, vem um pouco disso à tona...
Só uma coisa,
Sobrou muito do que eu sentia... Fora-se a matéria da história, mas ficaram as memórias.
Se fechar os olhos, lentamente, posso definir bem teu rosto em cada detalhe. Nada dessa imagem é fragmento.
Ainda sei quem tu és, sei quem sou... Ainda que me confunda com o tanto de tempo que já passou.
Sei,
Asseguro,
Assevero e,
Sinto saudades.
Tudo que vai -Capital Inicial
Composição: Dado Villa-Lobos, Alvin L., Tony Platão
Hoje é o dia
E eu quase posso tocar o silêncio
A casa vazia.
Só as coisas que você não quis
Me fazem companhia
Eu fico à vontade com a sua ausência
Eu já me acostumei a esquecer
Tudo que vai
Deixa o gosto, deixa as fotos
Quanto tempo faz
Deixa os dedos, deixa a memória
Eu nem me lembro
Salas e quartos
Somem sem deixar vestígio
Seu rosto em pedaços
Misturado com o que não sobrou
Do que eu sentia
Eu lembro dos filmes que eu nunca vi
Passando sem parar em algum lugar.
Tudo que vai
Deixa o gosto, deixa as fotos
Quanto tempo faz
Deixa os dedos, deixa a memória
Eu nem me lembro mais
Fica o gosto, ficam as fotos
Quanto tempo faz
Ficam os dedos, fica a memória
Eu nem me lembro mais
Quanto tempo, eu já nem sei mais o que é meu
Nem quando, nem onde
Tudo que vai
Deixa o gosto, deixa as fotos
Quanto tempo faz
Deixa os dedos, deixa a memória...