Peregrinação
Sigo nas linhas que o sonho rabisca e desenho minha vida com a arte que corre nas veias do artista e que dá cor ao sorriso da gente.
Sou criança inocente, miúda figura humanizada de forma ainda indefinida, alma entregue ao corpo em ritual de prazer.
E no jogo sigo livre, peça em tabuleiro de xadrez. Ora derrubando torres, ora vestindo-me da rainha e como tal, desfilo entre os raios de um sol maior que da tom a composição de existir.
Opostos encontrando-se por minutos repetem-se e repetem-se e repetem-se... Não será o desencontro o motivo de ainda querer amar?
Mas amar vai além do querer, além mar. É a busca sem a certeza do encontro, Santo Graal pregado por caçadores do eterno que nunca retornaram nem tão pouco traçaram um caminho, uma rota que fosse para iluminar as sombras de uma noite. E na noite espalha sutilmente seu cheiro, penetrando assim os poros do mundo e seguindo pelos segredos que um corpo frio não conta mais.
Mas segue na tentativa de apenas amar. Amar como se fosse a última chance, o último dia de todos que ainda haverão de despertar, mas no acordar de mais um sonho, lembra-se dos cantos ainda escuros, das esquinas ainda por dobrar na tentativa de descobrir mais um caminho a trilhar.
Exausto, aceita a porta que se abre a frente e de joelhos postos ao chão, levanta os olhos e na expressão humilde que sempre dirigiu sua vida, faz sua prece a Virgem que do alto lhe olha a alma. Com mãos tremulas, toca seu manto com a fé do peregrino que sai da terra que o pariu e segue buscando a remissão dos inúmeros atos que contradizem sua fé.
É de fé a reza do peregrino, assim como também tem fé o que busca a essência da vida na conjugação do verbo amar.