Normal
Normal é tudo aquilo que é aceito. A normalidade é o padrão do que a sociedade julga como certo, muito além de questionar valores: padronizações são bem vindas porque não exigem nenhum esforço, basta comparar o que se faz com o que se espera que se faça, baseado num padrão lícito de conduta e sentimentos: as normas. Pronto. Temos aí um caminho fácil, sem barreiras ou pedágios externos. Apenas os custos internos, às vezes impossíveis de se mensurar - ou, pior, de se arcar com eles - vão se arrastar por toda uma vida, com conseqüências imprevisíveis. Mas, de acordo com outro padrão de normalidade, o que não se vê não existe; portanto, não merece atenção.
Quem ama, tem ciúmes. Aqueles que se amam devem pertencer um ao outro. Aqueles que não mais pertencem um ao outro devem se odiar. Os pais é que ensinam aos filhos, jamais o contrário. Não pode existir amor desvinculado de sexo, mas pode existir sexo desvinculado de amor. Devemos trabalhar a vida toda até quando nos disserem para parar. Devemos ter uma religião. Devemos aparentar o que temos, e, mais que isso, devemos ter... e, se não tivermos, devemos aparentar que temos o que não temos.
Ser normal, em nossa sociedade da superfície, é seguir as regras de tudo aquilo que questionamos, tudo aquilo de cuja veracidade não temos certeza – porém, se um dia pararmos de nos questionar e por fim esta certeza se estabelecer em nós, deixaremos de ser seres humanos. Aí, sim, nos tornaremos verdadeiramente anormais.