O PODER CURATIVO DO PERDÃO

Pessoas rancorosas sofrem com doenças físicas decorrente do desejo de punir àqueles que as prejudicaram enquanto estes não sofrem absolutamente nada.

O que é punir? É defender-se, é prevenir-se, ou é corrigir? E o que é defesa, prevenção e correção?

Segundo o dicionário, defesa é repelir a agressão iminente. Portanto, punir não é defender, pois a agressão já se fez mais do que iminente. Quando se pretende punir, a agressão já foi consumada. Não há como defender-se de uma agressão consumada. Portanto, punir não é defender.

Prevenir, como diz o dicionário, é chegar antes de; antecipar; acautelar; precaver; advertir; evitar; prever. Sendo assim, punir não é prevenção, pois não se pode prevenir o que já ocorreu. Contraditório é antecipar-se a agressão punindo, sendo que punir é agredir, o que se faz ao causar sofrer físico ou moral, como privação. Todo sofrer resulta de agressão. Se o propósito em punir é evitar a agressão, agredindo para tal se consuma a agressão, fazendo-nos os agressores.

Corrigir é tirar algum defeito, algum erro; substituir o errado pelo certo; melhorar, emendar; retificar; endireitar; reformar; repreender; admoestar; emendar-se. Logo, punir não é corrigir, pois se a agressão se deu por subtração de algo, corrigir seria repor o algo e no caso de lesão física, curar a ferida é substituir o certo pelo errado, enquanto se o caso for lesão moral, retirar a injúria ou acusação pública ou privada é a forma mais próxima de desfazer o erro, reduzir o prejuízo, pois esse tipo de prejuízo não se pode desfazer completamente.

Logo, punir é o mal que se pratica pretendendo favorecer o bem. Trata-se de agressão que se aplica à aquele a quem se julga merecedor, tentando retribuir-lhe o prejuízo que produziu, dando-lhe o troco a altura, causando-lhe sofrer equivalente ao que causou. Com o punir pretende-se lavar a alma. E lavar a alma, o que é?

Comumente, lava-se o que está sujo, pois lavar é remover a sujeira, é limpar, tirar o que não é bom. O que é bom não se limpa, pois não prejudica, mas o que não é bom prejudica, por isto se quer remover. Fica claro então que o sentimento de vingança, de revanche, de dar o troco e lição não é bom, por isto o querer livrar-se dele, crendo que se pode faze-lo retribuindo ao agressor a agressão que causou.

O sentimento de punição é prejudicial, por isto o querer lavar a alma livrando-a desse sentimento sujo, assustador e corrosivo, que ocasiona gastrite, pois produz acidez excessiva; favorece a produção de células cancerígenas ao viver-se sob estresse permanente; produz e estimula o diabetes de forma assustadora; produz cálculos, dos quais se pode livrar ao eliminar o rancor e o ressentimento; também estimula o tabagismo, o alcoolismo e o uso de todo tipo de droga. Sem contar que o suicídio é uma forma de punição a alguém ou a sociedade devedora de algo ao suicida.

As pessoas se matam lentamente por seguirem postadas de vítimas além do fim da agressão, desejando punir o agressor. Pelo sentimento de revanche, cônjuges calam-se, querendo obrigar o parceiro a reconhecer seu erro e humilhar-se para desfazer o mal que ocasionou; pessoas rompem relações fraternas, amigáveis e profissionais com a mesma intenção, sendo que muitas suportam anos de espera para ver sua causa vingada no tribunal (como disfarçam as intenções vingativas) enquanto remoem rancores, sedentos de causar ao agressor o mal que lhes causou, não importando a forma, conquanto que o humilhe, cause dor física ou moral, para que sofra e chore, sentindo-se pequeno. Alguns pretendem que Deus os vingue, infringindo ao agressor crueldade a altura da imaginação mais perversa. Tais pessoas sofrem e destroem-se aos poucos, causando a si e aos que as rodeiam males irreparáveis, muito maiores que aquele que o agressor causou, além de atormentarem os familiares, educarem filhos desconfiados e vingativos, doentes no futuro.

Ironicamente, os que se dizem vítimas remoem por anos o desejo de causar sofrimento a quem, às vezes sem pensar, as lesaram. Maquinam o mal e pleiteiam por ele nos tribunais, premeditando dia e noite retribui-lo ao agressor em poções, muitas vezes, maior que aquela que ele lhes ocasionou.

Onde está a diferença entre o vingativo e o agressor sem causa aparente, se vimos que o sentimento de revanche, vingança, punição é tão repugnante quanto a atitude agressora que o motiva, sendo que o vingativo visa igualmente prejudicar, humilhar, dar a volta por cima na humilhação sofrida, fazendo-se humilhador?

É o vingativo justificado por terr motivo para vingar-se? É a sociedade punitiva justificada por possuir razão para premeditar e executar mal igual ao que o punido causou? E o premeditar o mal para punir não é bem pior? Às vezes parece que o agredido esteve de plantão, aguardando a justificativa para exercer agressão vingativa, tal é sua ênfase no desejo de punir.

No ver do agredido as razões do agressor podem não justificar a agressão, mas este é seu julgar segundo seus interesses pessoais. Já, na visão do agressor, ela pode ser justa, não devendo suscitar revanche por se tratar de punição. De igual modo, do lado de cá julga-se que as punições aplicadas não deveriam suscitar revanche da parte do punido, sendo que nos parecem justas. Logo, há conflito no interpretar o que é justo. Geralmente “pimenta nos olhos dos outros é colírio”, pois o que dói em nós parece-nos que não dói nos outros. Em regra, o que nos favorece nos parece justo. Quase sempre requeremos para os outros punições que não quereríamos para nós, mesmo que cometêssemos as mesmas infrações. Mesmo a agressão sem causa aparente é movida pela intenção de punir, sendo que a justificativa do agressor se acha em alguma ação do agredido no passado.

Podemos dizer então que o punir é a legítima defesa atrasada, quando a agressão já não motiva defesa e por isto perdeu os quesitos que justificam a legítima defesa, pois já não é iminente. Logo, punir é uma agressão injusta, pois defesa que não se dá em resposta a uma agressão iminente e injusta não se justifica, tornando-se agressão pura e simplesmente.

É possível limpar da alma o sentimento de vingança, de revanche, de dar lição e troco ao punir? Em regra, os punitivos desconfiam de todos e de tudo, vivem a reclamar e queixar-se da vida. Comumente, sentem-se lesados pelo frio excessivo, pela chuva em demasia, ou o calor insuportável, por Deus, que não os favorece mais do que a seus vizinhos, por pessoas que não fazem o que delas se espera, ou da forma como se espera, por filhos ingratos e mal-educados, por pais rígidos demais, por esposas insuportáveis, por maridos opressores, por parentes mexeriqueiros, vizinhos inconvenientes, professores que não sabem ensinar, pastores que falam demais, por injustiça da sociedade e tudo o mais.

Quem alcança o punir realmente lava a alma ou apenas expõe seu potencial igualmente destrutivo ao nutrir o rancor pelo tempo necessário até contemplar o semblante sofrido de quem o agrediu? É possível lavar a alma (tirar a sujeira do coração) de quem tem desejo de vingança, espírito de retribuição do mal? Quem deseja retribuir o mal não é igualmente mau? O sentimento de vingança é algo que o agressor implanta no coração do agredido, ou ele já estava lá, sendo apenas acionado pela agressão sofrida?

Pense então que proveito se pode ter em ficar de mal, dar o troco, ir à forra, dar lição e punir. Há benefício nisto? O agressor punido se voltará arrependido, pedindo perdão, querendo desfazer o mal, abandonando inclusive a prática malévola, ou mais ressentido, com redobrada vilania e desejo de vingança, como o ímpeto de revanche que em nós ele despertou ao nos agredir? Se nós, que nos julgamos bons, somos passíveis de ser provocados a tão grande e sega ira, capaz de durar o desenrolar de um tribunal moroso, o que dizer do agressor, que, dissemos que é mau. Pense o como você pode estar sendo pior para si mesmo quanto o agressor se é que segue a premeditar agredi-lo de alguma forma para punir.

Pondere secretamente sobre as doenças que possuis, que lhe podem estar matando, fazendo penar num leito, talvez, de morte. Pense no membro que você já perdeu, no órgão que já extraiu e veja se tudo isto vale a pena, se não estás a se prejudicar muito mais do que o ofensor prejudicou.

Pense no que disse Jesus que se queremos ser bons, como pensamos de nós, devemos ser melhores do que os maus, amando justamente àqueles que nos prejudicam. Lucas 6:32 a 36. Pense em Cristo suspenso na cruz depois de ser muito machucado, insultado e agravado, pedindo para que o Pai perdoasse os seus agressores, tendo misericórdia deles tendo em vista não saberem o que estavam fazendo. Lucas 3:34. Pense que o seu agressor é filho do mesmo Deus e que ele está disposto a perdoar esse filho assim como tem perdoado você. Mateus 6:12. Pense em tudo isto, perdoe e seja feliz, tendo uma vida muito mais saudável, em paz com você, com o próximo e com Deus.

Wilson Amaral

Wilson do Amaral Escritor
Enviado por Wilson do Amaral Escritor em 05/09/2006
Reeditado em 13/09/2006
Código do texto: T233585