Já tentaste fugir?

Loucura.

Por umas razões ou por outras, sempre fez parte de mim.

Sempre me foi algo fundamental.

Degusto lenta e prazerosamente cada momento em que se apodera de mim. Viajo para um universo onde tudo é claro.

Folhas voam e o mundo gira e gira e gira e o som é ameaçador.

A loucura faz-me perder a visão.

Apaga os meus olhos e deixa-me às escuras neste mundo de claridade em que nada mais há senão eu mesma. Em que, como não vejo, só experimento.

Deixa-me sedenta por mais um segundo do instinto animal que amo profundamente que se apodere de mim.

Desejo mais do que tudo ver de novo o mundo deste modo, confundido. Mais ainda do que já é apenas pelos sentimentos que esvoaçam e se juntam na atmosfera, com o pó e as imagens.

Desejo neve e folhas caindo de uma única vez, terminando com as estações. Quero sol. Chuva. Arco-íris.

Desejo parar tudo.

Sim, deixar tudo para trás e sentir de novo a impressão de me assentar num veículo de costas voltadas para a sequência de acontecimentos. A impressão de sofrimento e alívio simultâneo, ao ver tudo se afastar de mim. Ao ver tudo diminuir.

Quero deixar a bolsa. Largar as roupas, os retratos, o celular. Esquecer as chaves para não ter possibilidade de retornar.

Para não me sentir atraída.

Deixarei as reminiscências e, deste modo, como louca, correrei para ti.

Para os teus braços, onde nada mais é necessário para ser feliz.

Escaparíamos ambos. A cavalo, na orientação do sol. Como loucos. Loucos um pelo outro.

Esqueceria todas as vozes conhecidas. Todos os perfumes que conheço e mantive para mim.

Ficaria sem qualquer impressão.

Entraria nesse meu mundo em que a lógica não é a mais visível, mas sim a mistura desordenada de coisas em que me sinto à vontade. Em que me sinto em casa. Onde não sou distinta, mas só mais uma louca de corpo e de alma. De espírito.

Redijo sem conexão lógica entre os fatos. Anseio por esse universo, necessito dele.

Gritos na minha mente pronunciam meu nome.

Luto contra eles apenas por quem fica no mundo por vezes frugal, mas tenho conhecimento de que opor resistência não servirá de nada.

Os meus olhos se cerrarão mais uma vez, por mais que não vacile, por mais que os procure deixar abertos.

A loucura sorve-me a capacidade. Extrai qualquer resistência por parte do meu corpo. Deseja-se deixar levar.

Neste universo louco, sou uma louca incompreendida.

A estrada atrai-me como um ímã e projeto-me, girando, para adiante dos carros que me buzinam e se distanciam da via.

Oro, imploro para não pararem! Imploro por mais sons de Deus!

Preciso de mais um minuto, mais uns meros minutos dessa loucura tão imaculada que me alucina, que me mata e me torna feliz.

Loucura.

Por umas razões ou por outras, sempre fez parte de mim.

Quantas vezes já tentaste fugir?

Tatiane Gorska
Enviado por Tatiane Gorska em 22/06/2010
Código do texto: T2335543
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