O Fotógrafo - (As cores da realidade)

Seguindo os passos da lente, vejo o mundo em sua forma real,

Realidades tão diferentes, mas porque pra mim é tudo igual?

Na parede um grafite, tão bem colorido, uma arte de rua,

Traços que dão vida a verdade, e nas cores a realidade nua e crua.

Na lente em preto e branco, um cachorro que mergulha em meio a um cesto de lixo aberto ao lado de uma árvore, em um belo parque brigando por um pedaço de carne ja podre, com uma senhora de olhar triste, ja vencida e sem força, com teus pés descalços e já calejados, com seu menino nos braços chorando ja sem lagrimas e sua boca branca e seca de fome, sem camisa e suas calças sujas e ja gastas. Já esquecidos, passam despercebidos, quase que um mundo paralelo, onde ninguém quer notar, onde ninguém quer ver. Cachorro de rua, peludo, brincalhão que late e chama a atenção de uma família feliz, enquanto a criança que chora e soluça passa assim despercebida.

Dois mundos em uma imagem, dois mundos em um momento,

Em colorido a felicidade incontida, em preto e branco o sofrimento.

Não estou enganado, eu sei o que vejo, a lente nunca mente,

Enquanto alguns se enganam, a verdade está viva a minha frente.

Sou fiel à lente, que se mostra sempre verdadeira,

Minha imagem é real, ela não tem edição.

Não tento fantasiar o momento,

A moda não tem vez em meu coração.

Conheço muito bem a realidade,

Preto e branco e colorido juntos são apenas uma miragem.

Não faço da imagem o momento,

Eu faço é do momento a imagem.

Na lente ja colorida, uma criança de sorrido aberto, lambuzada de sorvete e ja saciada, saltitando protegida em cada uma de suas mãos por teus pais bem sucedidos e engomados incapazes de notar uma outra realidade a sua volta. Brincam com o cachorro saltitante, que logo ganha cores em frente à lente, querendo o lanche mordido que jogado ao chão, logo é devorado. Ao olharem na parede apreciam a arte, admiram a realidade, um menino ajoelhado, se alimentando direto ao chão, enquanto uma família que passa com teu filho segurando um balão. Hipocrisia na imagem, a lente logo a capta, mais um momento a ser gravado, mais um momento de reflexão.