Libertas!

Em meio a areia, jaziam inúmeras pétalas de margarida.

E enquanto, sustentada pelo ar, flutuava a última das pétalas...

Dos meus olhos vertiam as últimas lágrimas.

Onde estava o horizonte? O mundo haveria perdido seus limites?

Nunca me ensinaram a nadar no nada...

Restava-me o afogamento.

*

Minha consciência atava-se à realidade pelo constante guincho metálico de um balanço enferrujado.

Um último momento de reflexão, a favor de alguma clareira para o futuro!

**

Arranquei o coração do peito para alocá-lo em tuas mãos...

Espantoso o quão imprudente tornamo-nos perante ao amor...

Pois que se antes houvesse uma só gotícula de sanidade em meu corpo febril, não teria confiado a ti nem meus excrementos!

Se julgas insensatas e ignomiosas minhas palavras, abra teus olhos!

Observa o corpo que deixou ao chão! Asfixiando-se com o aperto firme da corda que tece o abandono.

Não era o problema ver tuas costas em vez dos teus olhos enquanto eu agonizava. Mas levar meu coração consigo, fazendo-me não mais distinto ou humano que uma pilha de lixo?

Inaceitável!

Não há destino funesto com o qual não se possa lutar!

E eis que hoje, tomado por dolorosa revolta, encontrei forças para romper as correntes que me prendiam ao chão!

Meus passos podem ser lânguidos como os de um morto-vivo.

Mas eu irei! Mesmo que manquejando e em tudo buscando apoio...

Estou a caminho de reaver meu coração.

De uma vez por todas, estarei liberto das algemas que me impõem tuas lembranças!

***

Como se fossem pinceladas, as imagens dos arredores ressurgiam...

Pude sentir a última lágrima atingir o solo.

Repuxaram-se meus lábios em um sorriso prazeroso...

Ao anúncio da última pétala que tocara o chão:

Não me quer.

Raphael de Oliveira
Enviado por Raphael de Oliveira em 22/06/2010
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