As estações...
Sobrou muito pouco! Resolvi numa noite de inverno caminhar pela vida, fiz isso em uma noite de silêncio impiedosamente ensurdecedor.
Vi que durante a minha vida preocupei-me muito com o amor: dar amor e receber amor. Durante muito tempo fui, ou pelo menos tentei, serpuro amor. É bom amar!!!
Passei pela primavera e percebi que, muitas vezes, ela não foi tão florida, tão cheia de cores. Quantas vezes, nas belas manhãs de primavera, levava sozinho o meu barco, feito de bambu, pelo mar bravio. Foi assim que descobri a verdadeira beleza da primavera: não é a flor que vai atrás da borboleta e, sim, a borboleta que corre atrás da flor!
Beleza à parte, a minha caminhada ainda não havia acabado, nem o tal silêncio...
Estava extremamente cansado que nem percebi o sol do verão, sempre que emergia era sob a chuva! Devo ter passado diversas ilhas, a maioria por mim criadas, mas o silêncio ensurdecedor já havia me cegado e o cansaço extremo já havia me tombado e, assim, não percebi as oportunidades de ancorar mer barquinho.
Essas ilhas por mim criadas era belíssimas! Só sei disso porque aprendi uma grande lição com o verão: não forme, não molde o amor à seu gosto - como fazem as academias -, mas deixe que seu barco ancore na ilha e lá, apaixonadamente, estará o amor!
O meu silêncio, a essa altura, transformou-se em necessidade de calar! Como somos superficiais no amor!
Mesmo decepcionado notei que ainda era preciso caminhar! Lancei-me, então, com o meu barco até que ancoramos no outono (que não faz parte do arquipélago).
Ah! Outono! Quantas músicas foram arrancadas de minh'alma; quantas lágrimas arrancadas de meu coração; quanto sorriso refletido em meu olhar; quanto amor... As flores caindo no chão, refletiam o meu coração melodiosamente na terra! Pensei como seria ver o entardecer outonal em Buenos Aires, ao som de Laura Pausini, tomando Amarula...
A sabedoria do outono me fez recordar dos meus ancestrais que ensinavam: a nostalgia e a melancolia de lado e, olhemos o amor, e o nosso amor, além das folhas amareladas.
Voltei à noite de inverno onde estava, onde estou. O silêncio? Meu companheiro. A solidão? Minha amiga. O amor? Somente minha inspiração...
E qual foi a lição do Inverno? Simples: prefira os seus livros! Sim! Prefira os seus livros! Eles não vão exigir que você se pareça com os modelos da TV, moldados com a ajuda de muitos recursos gráficos; não vão exigir que sua carteira tenha dinheiro, que sua garagem tenha o carro do ano, que sua casa tenha tudo, nem que o seu abdômem seja o tanquinho na área de serviço; não vão exigir chocolate, nem que se perceba os dois quilos perdidos; não vão exigir a sua alma! A única coisa que eles vão nos pedir é: Não me Deixe!
Interessante: esse é o mesmo pedido que faço a mim mesmo (todos os dias). Esse é o pedido que faço aos meus ivros!
Será que sou um novo Casmurro, na mesma casa do Engenho Velho, na mesma Rua de Matacavalos?
Curiosamente percebi que o silêncio estava produzindo um eco: não me deixe... não me deixe... não me deixe!
Caminhada no final e uma constatação: sobrou muito pouco! "Ne me quitte pas..."