GOETHE & SCHILLER - Companheiros de Viagem.

Qual teria sido o motivo de mais de uma década de ligação entre dois dos maiores clássicos da literatura alemã? Amizade ou pura conveniência? Os estudiosos até hoje divergem sobre o que uniu Johann Wolfgang Goethe (1749-1832) e
Friedrich Schiler (1759-1805) Não foi com certeza a origem social – muito díspare -, tampouco uma mesma geração, pois dez anos os separaram; seus interesses estéticos, filosóficos e literários também não eram tão coincidentes. Contudo tinham amigos comuns e, antes de se conhecerem, chegaram a morar na mesma cidade. Hoje, Weimar é justamente mais conhecida por ter sido o berço do classicismo alemão, resultado da união dos dois escritores. Da intensa correspondência entre ambos, Companheiros de Viagem, tradução de Claudia Cavalcanti, reuniu várias cartas, das quais aqui selecionei alguns pensamentos a seguir.

Os últimos companheiros de uma longa viagem sempre têm mais a dizer um ao outro.
(F. Schiller).

Prazer verdadeiro e proveito real só podem existir reciprocamente.
(Goethe)

O poeta é o único homem verdadeiro, e o melhor filósofo é tão somente uma caricatura dele.
(Schiller).

Vontade, alegria, participação nas coisas é o que há de real e o que volta a produzir realidade; todo o resto é vão, inútil apenas.
(Goethe).

É possível que a origem da rima seja comum e pouco poética; devemos fixar-nos na impressão que causa, e isso não pode ser discutido com racionalidade.
(Schiller).

Agora entendo-o totalmente, quando disse que na verdade era o belo, o real, aquilo que poderia tocá-lo, muitas vezes até às lágrimas.
(Schiller).

Sempre viajarei incógnito; escolherei os trajes mais humildes e, na conversa com estranhos ou apenas conhecidos, preferirei o assunto mais insignificante ou até mesmo a expressão de menor significado; comportar-me-ei mais leviano do que sou, e assim, diria, colocar-me-ei entre mim mesmo e a minha própria aparência.
(Goethe).

A utilização adequada do acaso muitas vezes produz na arte, como na vida, o que há de mais primoroso.
(Schiller).

O autor moderno lida penosa e medrosamente com casualidades e detalhes e, como ambiciona aproximar-se bem da realidade, mune-se então de vazios e insignificâncias, correndo o perigo de perder a verdade intrínseca, onde de fato reside o elemento poético.
(Schiller).

Numa obra simultânea, que está fisicamente diante dos olhos, o supérfluo é muito mais visível do que numa que atravessa, sucessivamente, os olhos do espírito.
(Goethe)

Penso que há duas formas de retardamento: uma reside na forma do caminho, a outra na forma do andar.
(Schiller).

Aristóteles é um autor verdadeiramente infernal para todos os que estão escravizados pela forma exterior ou não se importam com forma alguma.
(Schiller).


De onde vem esse aparente sentimentalismo, para mim ainda mais perceptível pelo fato de que desde há muito não sinto nenhum vestígio de disposição que não seja a poética?
(Goethe).

Já é ponto pacífico que só se filosofa e poetiza pra si mesmo.
(Schiller).

Trata-se de uma necessidade de naturezas poéticas, a de suportar tão pouco quanto possível
o vazio em torno de si, de apropriar-se através do sentimento de tanto quanto for possível.

(Schiller).

O medo de que algo possa ter acontecido ataca a alma de maneira bem diferente do que o
medo de que algo possa acontecer.

(Schiller).

Não me conheço tão bem quanto necessário para saber se poderia escrever uma verdadeira tragédia, mas
já me assusto diante da idéia e estou quase convencido de que poderia me destruir
somente com a simples tentativa.

(Goethe).

Quem pode separar seu barco das ondas, sobre as quais ele flutua? Contra corrente e vento percorrem-se tão somente pequenos trajetos.
(Goethe).

Infelizmente, nós modernos, de vez em quando também nascemos poetas.
(Goethe)

Habitualmente é mesmo Ele quem semeia para a ciência.
(Schiller).

A natureza deixa-se induzir, mas não se deixa coagir, e tudo o que teoricamente fazemos contra ela são aproximações para as quais nunca será bastante recomendar humildade.
(Goethe).

Faz parte da essência da poesia que a ela estejam ligadas seriedade e brincadeira.
(Schiller).

É muito mais difícil desistir de um interesse pelo sentimento do que de um pelo
entendimento.

(Schiller).

Na minha atual liberdade, sinto-me pior do que na escravidão de antes.
(Schiler).


Todos os artistas mais modernos pertencem à classe da imperfeição.
(Goethe).

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Goether e Schiller -Companheiros de Viagem
Tradução de Claudia Cavalcanti

Nova Alexandria
São Paulo 1993









LordHermilioWerther
Enviado por LordHermilioWerther em 19/06/2010
Reeditado em 21/06/2010
Código do texto: T2328392
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