Terceira Pessoa
Lá está ele de ponta cabeça no quarto, e não, ele não está se exercitando, muito menos tentando fazer mais sangue correr pelo seu cérebro, também não perdeu nada debaixo da cama... Bem, talvez tenha perdido, mas com certeza não está procurando agora. Está ali procurando encarar sua vida da maneira como ela está no momento, de pernas para o ar.
Lá está ele pensando em terceira pessoa novamente, ora procurando encher o vazio, a solidão da cidade, ora só para exagerar seu ego, mas seu quarto é muito pequeno para isso e sempre acabam em conflito. Talvez pense assim porque tenha vergonha de ver os problemas como seus ou por ser mais fácil resolver os problemas de outra pessoa. Afinal quem nunca achou que os problemas de outrem não eram tão graves quanto os seus?
Ele se deixa levar em seus devaneios ao som da música e no que restou do gosto do café. Fica brincando com seus desejos, cria expectativas para depois destruí-las, tenta forçar seus sentimentos por alguém que não seja ele mesmo, pois seu coração é meu frio, só não tão frio quanto os seus pés pela falta de circulação.
Ele acaba de descobrir que a dor em suas costas causadas pela posição adotada para a breve meditação está incomodando mais que os problemas que o levaram a ficar daquele jeito. Ele já julgou ser hora de dormir, seu dia começará às 5h e terminará as 23h30 como todos os outros. Deita agora sem saber ao certo se os preciosos minutos perdidos para tentar fazer o que ele pensa e o que ele não sente mais interessantes valeram à pena, mas isso só poderá pensar amanha na sua divagação matinal sob a água fria do chuveiro.
Dormirá em paz. Desistiu de colocar tanto sentido nas coisas.
Ainda bem que ele não bebeu tanto café.
Ele, não eu.