Ele

Agimos de olhos fechados, fazemos coisas sem saber se é o certo ou o errado, se vamos nos arrepender, nos alegrar, satisfazer. Ou podemos sofrer com a escolha dos outros, inconsciente, claro, se a decisão foi a correta. O problema não é a escolha e sim suas consequências, infelizmente, não somos videntes.

Olhar para trás e ver que tudo valeu à pena, que não houve escolha errônea, que todas as palavras foram sinceras, os atos, por mais que não fossem planejados, foram os melhores, isso sim é uma dádiva.

É claro que esse pensamento serve para varias áreas, trabalho, amigos, aquela festa, aquele show, aquela roupa. Porém, me refiro somente a uma, aquele AMOR.

É sempre bom se apaixonar, sentir os tais calafrios, o coração bater forte e todos aqueles sintomas de paixonite. Apaixonamos-nos várias vezes durante a vida, tem gente que nunca se apaixonou, normal. A gente nasce, se apaixona, cresce, se apaixona, morre.

Mas amar é diferente, amamos apenas uma vez. E quando voltamos a fita, sim, é nessa hora que a gente consegue enxergar. Sabe aquele garoto¿ É, aquele que você deixou passar. Aquele que estava do seu lado. Que deixava você com muita raiva quando se atrasava, mas sempre tinha uma desculpa plausível que te calava. Que te fazia um carinho diferente dos outros, que te apelidava com aqueles nomes que você fingia não gostar, mas que por dentro você adorava. Que te mostrava o mundo em alguns segundos e te ralhava quando estava errada. Aquele que na época você disse pra suas amigas “é ele”. Que te mostrou que o mundo é mais do que as festas, o seu quarto e você mesma. Aquele que você, antes de dormir, pensava “é, ele é meu”. Aquele que você queria estar mais perto, mas nunca dava, e perceber depois que mesmo o pouco, já era o suficiente. Que te ensinou jogar xadrez. Aquele que sempre vinha com uma novidade. Que andava de um jeito engraçado que te fazia sorrir. Aquele que seu pai não gostava e sua mãe adorava. Que tem um cheiro natural maravilhoso e que ninguém mais tem. Aquele que, mesmo que por pouco tempo, participou mais da sua vida do que você mesma. Aquele que até na hora do adeus, não deixou de ser amado. Que te fez mudar, cantar, sorrir, cair na piscina, ler, entrar num regime, sair do regime, roer as unhas, esperar, chorar...

Ver tudo isso e confirmar que, realmente, era ele. Que não importava o quanto brigassem, estar com ele era sempre mais importante do que as discussões. Mas gostar não é tudo, é só o começo. E entender que até na hora do adeus ele te ensinou. Ensinou que não se pode ter tudo, que os erros não são impunes, que a vida não é um filme ou uma música em que se pode voltar, que se arrepender não é o bastante, compreender que isso passa e que não é o fim do mundo. Afinal se ele te ensinou tantas coisas, por que não praticá-las¿ E quem sabe um dia, voltar a amar ;x