Qual é mesmo o seu signo?
Vendo um filme há alguns instantes, ótimo por sinal, me identifiquei estranhosamente (esse termo existe? Não importa, de qualquer forma expressa o que quero dizer) e irritantemente com a personagem principal. Não que eu seja idêntica a ela, mas por sermos simplesmente iguais!
Ela odeia tudo. Não tem paciência pra nada. Não diz meias palavras. Pelo contrário, faz questão de dizê-las por completo e com a boca cheia de orgulho. Uma mulher cativante. Irritante. Insuportável. Irresistível.
O que mais me agradou, ou irritou, nela foi o fato de ela odiar. Ela odeia com toda a sua força e argumentos. Ela odeia, em particular três coisas que são simplesmente odiáveis. Primeiro: ela odeia pessoas que buscam coincidências em tudo – “você é de capricórnio? Nooooossa, minha vizinha também. Isso é muita coincidência!”, realmente, isso é absurdamente e irritantemente irritante, e, nesse caso, merece a redundância; segundo, pessoas otimistas demais – “Sofri um acidente de carro, quebrei a perna, fraturei a coluna, perdi meus dentes, meu carro deu perda total, mas eu me considero um cara de muita sorte, eu poderia ter morrido”, isso nem chega a ser irritantemente irritante, é apenas ridiculamente ridículo, não merece delongas; e, por fim, o terceiro, ela odeia ouvir as pessoas. Que interesse há em saber se o intestino de alguém está funcionando? Por favor, há tantos iogurtes pra isso hoje em dia, nem se precisa de médico, vá ao supermercado mesmo.
Mas sabe, apesar de não parecer, tem coisa pior do que tudo isso. A fome, a miséria, esse papo filântrópico, os vegetarianos ativistas que não têm onde comer (como eu), porque apesar da moda ecológica, o mundo (o Brasil - não sou uma pessoa muito vivida) só come carne, tem eu, que fico aqui escrevendo sobre alguém que odeia tudo. Tem você, lendo o que eu escrevi sobre isso. Há uma vasta enciclopédia de coisas odiáveis. O que nos dá um ódio ainda maior. Pois é, a vida não é ridícula? Mas sabe, tudo tem um por quê. Qual é mesmo o seu signo?
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Dica: assista ao filme "Um novio para mi mujer" de Juan Taratuto e o roteiro de Pablo Solars. (Argentino)