Necrofilia interior
Há um ser que por mais fantástico e inverossímel possa parecer, excita-se deverasmente por mórbidos banquetes... e, pensamentos tortos, feito vermes nefastos em necrófilos cíclicos, quando em quando, manifestam-se. Então, revivendo mortos de recônditos lugares, ressuscita-os e faz amor com eles. Esse ser, inescrupuloso, sedento por células mortas e tecidos necrosados, possui a força devastadora da decomposição. Devora a carne, corrói os ossos, consome os sonhos... destrói a fonte dos desejos, arrebenta os tecidos e fios que alimentam as moléculas da esperança e, rejubila-se em taças de sangue do corpo ressurgido, embora impuro e decomposto, pelos resíduos do tempo, poluído!
Assim, nessa necrópole mental, aflige-se a alma em neuroses doentias. Infeliz mente doentia... não permite avançar, sonhar, crescer... libertar-se. Viver é impossível! Viver é subexistir equilibrando-se no tênue fio entre a sanidade e a loucura; adormecer é cair em pesadelos, submeter-se à tortura... Nesse limbo, a transar com velhos e conhecidos cadáveres que habitam seus submundos interiores, disputam espaços monstros psicóticos de um passado pensado morto... fétidos morcegos do medo e, peçonhentas inseguranças a atordoar pensamentos, roubando-lhes da vida, todo o brilho. Excitação maníaca destrói sonhos, aniquila forças... obstaculiza a possibilidade de contemplar a luz além dessa caverna escura, úmida e fria... a mente aprisiona, oprime, segrega o ser a total estado de ostracismo.
E, nesse poder de algemar sem algemas, faz refém a alma humana, mente doentia... amalgamada à dores e sofrimentos do passado, teme a luz da realidade, subexistindo em meio a esse necrófilo bordel, insano e doentio, a prostituir-se com os ilícitos prazeres de seu ego tirano.