OS DESAMORES JÁ SÃO PÁSSAROS

(a propósito de que o “o poeta é um fingidor”, segundo Fernando Pessoa)

No desabrochar dos poemas, a gente inicia cantando os desejos de ser e ter. De lambuja, algumas eventuais falsidades. Com o tempo, descobrimos que isso não basta: a dor de um não é a dor do outro, em quem o sofrimento nem repercute. Mesmo assim nos confessamos possessos de ausências. A descoberta do Homem como exemplar único se dá muitos anos depois, quando os desamores já são pássaros. Aí então se olha o todo sem lamúrias. Está posta a coroa de espinhos. E nos redimimos na outra margem.

– Do livro O NOVELO DOS DIAS, 2010.

http://www.recantodasletras.com.br/pensamentos/2293030