Sobre as conquistas desejadas com dignidade
Alguém afirmou, ao ler o texto “Sobre o desejo”, que “toda a conquista desejada com dignidade não é pecado. Pecado é os que têm muito e menosprezam os que não tem”. Percebi um protesto. Ao falar sobre o desejo, e sobre o seu aspecto nocivo ‘a obtenção da paz, alguém poderia daí concluir que o desejo de progredir é também maléfico?
Isso nos remete diretamente para os aspectos de injustiça de nossa sociedade, com a sua escandalosa concentração de renda e pobreza disseminada.
Outro aspecto também importante é o de que, realmente, a transmissão de vivências através de palavras é muito difícil, já que o entendimento é toldado pela carga prévia de experiências de cada leitor.
Como diz, apropriadamente, um antigo, uma mente toldada saí deformando tudo com que entra em contato. Mas o contrário também se aplica, uma mente ao se tornar pura, purifica todo o universo.
Entendemos como desejar com dignidade o fato de alguém almejar progredir em termos materiais sem, que para isso, use de recursos ilícitos, o que em nosso meio significaria, não roubar, não ser corrupto. Até aí tudo bem.
O tema que nos propomos a discutir, originalmente, foi a paz espiritual, ou seja, a abolição do sofrimento. Acreditamos que realmente é impossível obtê-lo em meio ‘a carência e ‘a ignorância. E que a permanente pressão pelo progresso material na sociedade hodierna, torna, cada vez mais difícil, a obtenção dessa paz.
Realmente, ninguém pode renunciar ao que não tem, e temos sorte se podemos estar debatendo sobre esse tema, que não passaria pela cabeça d a maioria do povo brasileiro.
Portanto é inteiramente lícito que as pessoas almejem progredir em termos materiais, mantendo a dignidade, se possível.
Entendemos que a boa sociedade, a sociedade que desejamos, é a que permitir ‘a maioria dos indivíduos desenvolver todas as suas potencialidades, de preferência, as que contribuam para a paz tão D E S E J A D A. Estamos cansados dessa sociedade que empurra as pessoas para a marginalidade e o crime.
E verificamos, consternados, que a história não é, e nunca foi, escrita pelos que têm essa paz.
A história está eivada de crimes, violência e injustiça.
O que nos recoloca no tema inicial: é possível obter a felicidade mesmo assim? Buda diz que sim!