Conto de fadas

Podias, de modo simples, falar adeus.

Não um 'até logo' como dirigimos aos amigos, mas um adeus, um adeus sincero.

Uma despedida que magoasse, que me arruinasse de uma só vez e me permitisse chorar tudo o que resta chorar.

Podias facilmente ir.

Acenar-me ao longe, caminhar para onde não tivesse possibilidade de te enxergar mais.

Fazer-te passar por águia e voar para o céu mais escuro, mais longe, para a monarquia dos contos de fadas onde não provocasses mais sofrimento em nenhuma pessoa.

Podias naturalmente sumir.

Sem um aviso, privado de um sinal, desprovido de qualquer 'vemo-nos um dia, amor'.

Devias deixar-me a morrer por dentro, a chorar o teu falecimento que forjo com as prendas escondidas na caixa onde nenhuma pessoa toca. Manter-me presa ao peito para os pulmões não cessarem, para a hemorragia do coração parar. Para o buraco no corpo não alastrar até não conseguir estar nem mais um instante desprovida de ti.

A dor, enfim, cessaria.

Podias gritar-me, tratar-me com desprezo, ou pura e simplesmente agir como odeio que o faças. Podias deixar-me esquecer-te. (Mas sabes muito bem que não o farei..)

Já chegou o inverno e o nosso dia está ficando próximo.

Sei que não aguento esperar mais, permanecer a lutar por alguma coisa em que não enxergo expectativa.

Pressinto a chuva lá fora apenas pela cor do escuro fixo no meu quarto, envolto em mim e nas plantas à janela.

Podias, de modo simples, amor, mencionar que ainda me amas. Fazer-me esquecer de como respirar.

E aí, deste modo, permaneceríamos felizes para sempre como nos contos de fadas.

O NOSSO conto de fadas.

Tatiane Gorska
Enviado por Tatiane Gorska em 29/05/2010
Código do texto: T2287760
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