Tic-Tac
“Falar da vida sem falar da morte é o mesmo que dizer que machucado não dói.
Essa relação filosófica sobre essa linha da vida é tão vaga e tão vasta ao mesmo tempo
Uma árvore que passa da casa da centena vivendo lá parada, sentindo o passar das estações comparada com a vida de um inseto que nem consegue chegar a sentir o calor do sol ou o cair da noite três vezes em sua vida é difícil, é complexo.
Um segundo para uma borboleta pode ser tanto tempo, mas para uma tartaruga marinha é um nada em meio a todo o tempo que ela tem no mar.
É atordoante e até estúpido pensar nessa medida. Nós, seres humanos, os pensantes de polegares criamos o relógio para nos privarmos de certos desperdícios, mas nunca pensamos em programar uma horinha do dia para aproveitar o dia.
Olhar o dia, sem compromisso, sem responsabilidades, apenas ver o que o dia tem a nos oferecer.
Desde que o relógio se fundiu a nossa pele de nada vale ficar parado, sentindo o vento, sem ter calculado o tempo que podemos gastar sem atrapalhar nossos importantíssimos afazeres.
Tanto cálculo, tanto tic-tac e tudo acaba por se perder sem percebermos.
A vida é só uma ponta da linha que está se queimando a cada milésimo de segundo e sem se dar conta, mesmo com tantos métodos de fazer a linha se queimar mais devagar, ela chega a seu fim e a morte bate a nossa porta. Um ciclo que se estende e não dá pra mudar.
Cazuza disse uma vez que morrer não dói. Eu concordo e acho que o que dói é saber que não dá pra morrer duas vezes, é uma vez só e acabou”.