Renascendo

-Sentado no banco dessa praça, fico imaginando coisas.
Observo os pássaros que voam sobre as arvores.
Faz frio, o inverno vem chegando e com ele a tristeza.
As duvidas aumentam, olho para os lados, vejo crianças agasalhadas brincando, idosos jogando xadrez, parece que todo mundo nesta manhã está feliz.
Respiro fundo, sinto o ar gelado invadir meu peito, volto a ler meu livro que depois de um tempo fecho resignado.
Mas uma vez você venceu, levanto lentamente, caminho por entre as pessoas, paro na calçada, o farol está fechado para mim, triste metáfora.
Olho para o outro lado da rua e vejo o edifício onde agora moro, o farol abre me avisando que devo seguir em frente.
Atravesso à rua, na calçada as pessoas vão e vêm, camelôs vendem seus produtos de origem duvidosa, atrás de mim passa um carro de policia em alta velocidade, o barulho estridente da sirene ainda fica por mais alguns segundos em meus ouvidos, uma criança descalça e com uma camiseta rasgada me pede um trocado “ ó mundo tão desigual” penso nas crianças agasalhadas com suas mães na praça.
Entro no saguão e cumprimento o porteiro, já no elevador aperto 13, meu andar, olho para o espelho, me pergunto quem é aquele cara olhando para mim.
A porta se abre, pego minha chave e entro no apartamento. Que para mim ainda é estranho.
Sigo em frente, paro diante da janela e olho para o horizonte, sinto uma brisa fria cortar meu rosto e lembro-me do tempo em que gostava de ficar olhando as estrelas.
Penso em minhas filhas, começa a garoar em Sampa, linda e melancólica garoa.
Essa cidade é cinza, quando se olha para ela com atenção da pra ver a beleza de seus prédios, é como se tivéssemos em um filme noir, aqueles em preto e branco da década de 40
Os devaneios não param, sinto saudade de minha mãe e de seus conselhos, lembro do dia do meu casamento, como éramos jovens, os nascimentos de meu filho e minhas filhas a perda do meu menino, a luta para construir uma vida.
O fim desta mesma vida.
O som de musica no apartamento ao lado me traz de volta a realidade
Milton esta cantando travessia parece que esta falando comigo, não consigo conter as lagrimas “vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer”.
O cara é foda, grito para as paredes!
Sei que vai levar algum tempo para que as feridas cicatrizem, mas quem sou eu para duvidar do Milton?
É hora de mudança, tenho que ser forte preciso ser forte.
O telefone toca e ouço a voz de minha filha me perguntando se pode passar o fim de semana comigo, concordo com alegria.
Ando pelo apartamento ainda sem mobília e começo a planejar minha nova vida.
Volto para a janela e olho para o céu, a garoa passou e uma fresta de luz começa a rasgar as nuvens pesadas.
É a vida que não para, me levando a novos caminhos
Paulo Siqueira Souza
Enviado por Paulo Siqueira Souza em 17/05/2010
Reeditado em 26/05/2010
Código do texto: T2262583
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