Para derrotar hábitos e impulsos
O problema essencial, que um momento de reflexão sobre nossa experiência vai confirmar, não é que impurezas ocorrem dentro de nossas mentes, mas que em 9 de cada 10 vezes não estamos conscientes que elas estão ali.
Ou melhor, na hora que elas irrompem em nossa consciência, normalmente adquiriram tal dimensão e força que no andar normal da situação somos impotentes para evitar suas consequências.
A explosão súbita de raiva destrutiva, o impulso de luxúria, a palavra cruel ou arrogante que pode ter consequências de alterar vidas, devem todas ter saído de algum lugar: talvez muito tempo atrás, em uma momentânea faísca de impaciência ou desejo que, se tivesse sido trabalhada na hora, poderia ser facilmente neutralizada ou dissipada.
Tudo bem, mas como precisamente alguém se torna tão perfeitamente auto-confiante que nenhum impulso da mente, não importa quão pequeno, consiga passar despercebido?
Não há soluções mágicas. A técnica prescrita por Shantideva é uma vigilância constante e incansável – um alerta contínuo sobre o que se passa em nosso fórum interior. Ele diz que devemos proteger nossas mentes com o mesmo cuidado que alguém protegeria um braço ferido ao andar em meio a uma multidão desordenada; [...]
Shantideva recomenda que tão logo sentimos vontade de fazer qualquer coisa — falar, ou mesmo andar pela sala — devemos iniciar o hábito do auto-exame. O menor impulso à negatividade deve ser saudado com uma paralisação total do sistema:
Então, você deve permanecer como um tronco de madeira
(Bodhicharyavatara, cap. 5, 50-53)
Nenhum pensamento deve ter a permissão de virar ação sem ser examinado. Devido ao grau de auto-consciência necessário, não é surpresa que Shantideva se refira às minúcias do comportamento do dia-a-dia — todas as pequenas coisas que habitualmente deixamos passar, dizendo para nós mesmo que elas são muito pequenas para nos preocuparmos.
Nesta prática, na verdade, são exatamente os impulsos menores – geralmente impulsos subliminares e padrões de comportamento – que exigem a maior atenção.
Grupo de Tradução Padmakara
Na introdução do livro “The Way of The Bodhisattva”, o Bodhicharyavatara, de Shantideva