ESCREVER COM SANGUE
Escrever com sangue só pode aquele que busca a verdade. Não se trata da verdade acordada em princípios ou dogmas elencados por academias e seus intelectuais.
Também não é a verdade escrita com sangue dos suicidas, posto que atingido o fim da vida, a única verdade imbatível é o corpo rígido e pálido dos sepulcros.
A verdade escrita com sangue corresponde à busca pelo autoconhecimento, ou como queiram alguns, a verdade do Filósofo, do filósofo da vida. É aquela verdade despida das vaidades consignas dos oradores nos púlpitos ou palanques sobre as cabeças da multidão boquiaberta.
É a verdade do Filósofo que fala com o corpo, não do filósofo das academias. É o Filósofo que comunica sua verdade filosófica instituída no corpo que fala. Isto é, o corpo filosofando na sua dimensão gesticulatória. Noutras palavras, o corpo comunicando seus pensamentos, suas intenções e desatenções.
Nesse sentido, a verdade escrita com sangue, não corresponde à negação do que se ouve ou vê, nem, tão pouco, menospreza o contato com os outros. Apenas se apropria das coisas e das causas, lições que considera pertinentes para seu autoconhecimento. Porque valoriza as relações com o outro, dá a essas interações, atribuições comunicantes, e como tais, considera as trocas elementares para o desenvolvimento do Homem.
Então, escrever com sangue, como já se disse, não significa propor um fim, mas, ao contrário, buscar, sempre, o começo como linha condutora para o aperfeiçoamento do ato filosófico. E nessa busca, que não finda nunca, ter sempre em mente que a verdade nada mais é que um caminhar por caminhos tortuosos, ingratos e, ao mesmo tempo, fundamental para se conhecer a ti mesmo. Ou seja, escrever com sangue corresponde a um móbile, uma paralaxe, um devir a ser que dia a dia se renova, pois, ao se considerar o tempo como elemento inerente ao Homem, portanto sujeito às mutações, nunca será igual no segundo seguinte.
Por fim, escrever com sangue, quer dizer, em síntese, escrever e viver com honestidade, isto é, a honestidade com H maiúsculo, portanto, universal e imutável.
É isso.