CARTA ÀS SAUDADES.

CARTA ÀS SAUDADES.

Quantas saudades eu sinto!

Aquele guri atarracado que brincava satisfeito com bonecos de papel,

Sem se preocupar com o tempo.

Aquele quintal quase eterno onde eu e meu Irmão éramos reis.

Pena que já não exista mais...

Nem o quintal, nem minha infância.

Aquele prato pequeno e suficiente, as visitas do meu Herói,

A certeza do carinho. Aquele chão vermelho e os batentes

Onde meus passos eram tão seguros...

Naqueles dias o mundo me carregava no colo

E hoje eu suporto o mundo em meus ombros.

Porque o tempo passa tão depressa?

Porque não temos mais chances de sermos perfeitos?

Porque erramos tanto?

Hoje, meu quintal é a rua

E minha casa está escondida em algum lugar que ainda não descobri.

Quando lembro do lar, com as pingueiras em dias de chuva,

Daquela pobreza sem culpa, da ingenuidade geral,

Das horas sob a cama, escondido de todos os males,

Sei que realço o brilho de meu olhar.

Era impossível estar só em tão poucos metros quadrados

E nem mesmo na bronquite eu era solitário.

Agora as saudades ganharam volume, novos rumos, novos motivos.

Meu Herói foi visitar DEUS e não voltou mais...

Veio a consciência e, com ela, veio a insuficiência do ser

E sou obrigado a entender quão pequeno sou

Frente as ridículas verdades absolutas, frente ao topo do muro lotado.

Vejo meu sorriso sendo encarado como ofensa

E o atrito entre o que dou fé e os fatos. As certezas são perigosas ilusões.

Quero meus bonecos de volta, mas me faltam papel e espaço.

Hoje, sou simplesmente o Márcio e não mais o Dudu, o Marcinho, o Luisinho...

Temo não ser mais sequer o Mar.

Tudo que quero é brincar, como sempre fiz, sem me preocupar em ser burlesco.

Quero ter sensações de vitória como quando via minha Mãe na saída da escola,

E quando ela me carregou nos braços no meio da enchente...

Sensações como as dum dia dez, quando aquela voz única tomou minha Alma...

Me sentia protegido...quero ser capaz de proteger quem amo.

Eu não queria ter aprendido o quanto é arriscado acreditar num sonho,

Nem que eu não conseguiria mais passar despercebido e ileso pelos temporais.

Não queria ter aprendido tanto pra no fim perceber que nada sei.

Quero que todos ganhem brinquedos e abraços e beijos...

Sou feliz por ter do que sentir saudade e quando eu voltar a ser um guri

Que meus brinquedos me esperem junto a algum dia dez. ///

Márcio. ADIANTE SEMPRE! 07/08/2009.

Adiante Sempre
Enviado por Adiante Sempre em 06/05/2010
Código do texto: T2240780
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