Reflexão sobre políticas públicas e a ocupação das encostas no Rio de Janeiro
Primeiro despejam os cortiços em respeito ao "visual" da cidade. Sem qualquer amparo, os ex-corticeiros, moradores cuja vida foi violentamente descoberta pela colcha quentinha do capitalismo, uma mão na frente e a mente nas contas, foram arremessados pras encostas. Foram no mato lutar contra a inclinação do terreno, o acesso precário à água, contra os mosquitos das florestas, contra a própria floresta - visual previlegiado da Zona da Festa. E o agente dessa migração não foi o Estado, o agente dessa migração foi a omissão dos direitos constitucionais fundamentais e INALIENÁVEIS (o direito a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da LIVRE INICIATIVA, o direito à moradia; a Garantia Fundamental de tratamento humanizado e a Garantia de que o cidadão não terá seus valores degradados por quaisquer forças, insitucionais ou não). O negócio é que esse papo de direito constitucional não é pra pé rapado, pé rapado tem que subsistir e subtrabalhar, para sua RAÇA tecer eternamente os farrapos desse país, e de todos os países do Globo Terrestre. O Estado não é para aqueles que dependem de sua bondade, de seu esforço de caridade, atos paternais de uma Constituição laica.
Os políticos do executivo, os Ministros, os Juízes e Senadores, deputados, fingem não ver para não sujar de sangue o nome da diplomacia, pra não enfiar o dedo até as membranas na questão mais dolorida do povo. Este último se espreme entre as paredes móveis da especulação imobiliária e do aumento do preço do pão. Depois dizem que ninguém os obrigou a morar em encosta, quando tem desabamento, mas esquecem das iniciativas de Pereira Passos que hoje tem até nome de Rua.
E as favelas crescem a olhos vistos até que a visão de sua miséria transborde pelas lacunas que dão sentido à peneira. Degenerados como são, e por serem quem são, sujam a paisagem mais uma vez. E toma-lhe Lacerda pro povo não instruído! Demolidas outras favelas, a vida do país pode seguir sem fugir com os olhos.
Em lugares agora diferentes, continuam nascendo e crescendo. As favelas são as crianças cheias de teima das grandes cidades, sobrevivem a despeito do estômago dolorido, e dos punhos cerrados. Assim como a própria cultura, e como todos os outros conglomerados vivos, materiais ou abstratos, teóricos, "ajuntados" pela nossa história de luta, são uma comunidade inteeeira de crianças sobreviventes e desdentadas...
Que tipo de dinâmica social sempre volta a ocorrer sem que ela seja do interesse de ninguém? Uma dinâmica que não provém das necessidades de algum estrato da sociedade? Simples, nenhum. Tudo acontece por condescendência, e de acordo com a excêntrica hierarquia de prioridades, na interminável lista de Deveres de Casa dos agentes da política nacional.
Mas a proposta, meus amigos que é CLARO, já sabem de tudo isso, nunca foi alterar as coisas. Muito menos analizá-las para fins críticos e fins por-fim interventores. Pensar criticamente a realidade total da sociedade jamais foi o objetivo dos estrategistas. E é por isso que me entristece muito ouvir dos meus supostamente-instruídos colegas de faculdade que o Estado são os braços que mantém tudo funcionando. Quem mantém "TUDO FUNCIONANDO" são as populações marginalizadas, que só conseguem emprego em obras públicas, em fábricas de absorvente, vivem do plantio monocultural de mandioca, os funcionários públicos, garis... São essas populações as que sustentam o sistema que o mundo inteiro "deve comprar", e não os filhos, e sobrinhos e a esposa (às vezes até a amante!) dos representantes do povo. Esse Grande Irmão, o mais velho e mais egoísta, opera através da concepção fria de que alguém tem que ganhar, enquanto outros se massacram para simplesmente participar da grande corrida.
Se esse é o melhor jeito de viver que meus colegas do Ensino Superior conseguem imaginar, acho que prefiro não participar NEM EM ABSTRAÇÃO desse ideário idólatra e cego que habitam suas mentes.
Um continente onde "...Parlapatões são Estadistas, e demagogos são Salvadores da Pátria", de acordo com um colunista do Jornal O Globo.
http://www.youtube.com/watch?v=ztYJXnT_spM&feature=related
George Carlin sobre os campos de golfe e os sem-teto dos Estados Unidos.