[Tenta, Tenta...]
[Pensamentos vagamundos...]
A vida vai passando. Às vezes, passa por mim, feito um trem - é quando fico, não vou; assisto, apenas assisto - morro de vontade, de tesão... e só assisto! Diabos!
Mas há uma urgência – aquela da flor que vai morrer. Urgência de florescência, de ser belo com ou para... não, nada disto, não está bem falar assim, gasta nada disto não, gasta nenhuma figuração para dizer que a vida já vai acabar. A minha, a tua, a dele, a dela... precisa a gente saber mais que isto? Precisa?
Numa palavra: ousadia. Tenta, tenta... quem sabe se não é o que está sendo esperado - a tentativa, por mais absurda que seja? Desde que com arte, com delicadeza, com respeito... nada a temer: tenta, não deixa o corpo esfriar na estação, a olhar o trem da vida passar! Só não vale querer mais do que o instante, não vale querer fixar [me] na tua paisagem, feito poste... tenta, toca, goza, e parta... Perda?! Ara, pois engendra de novo, um novo acaso, uai!
Em breve, chegará o tempo de não mais tentar, mas apenas de... sim, tempo de morrer, sempre é, a gente nunca sabe... mas, preferivelmente, sob anestesia geral! E, ó vida maldita: não antes de “dancing in the dark”... não antes de o olhar se derreter no olhar, de tanto calor, de tanta fúria de desejo...
Gasta filosofia? Gasta sim, para espanar o pó das ideias. Não há pessoa de cuja existência eu esteja mais certo do que... eu mesmo! Mas, como gosto de dizer, eu não estou interessado em mim, pois eu só me sobrevoo, assim do alto, e vejo os meus passos me conduzindo para abismos. Se eu estivesse interessado em mim, eu estaria louco!
Estou interessado sim, mas em ti... vem... ou vou eu?! Ah, sorrio de mim, de minhas tantas falas inúteis... mas se já vou morrer, o que importa? Nada...
[Penas do Desterro, 04 de maio de 2010]