SOLITUDE

O que é estar sozinho? A definição de solitude se dá pela ausência de outrem, falta de elemento acompanhante, desligamento da presença afetiva e material de outro corpo. Fica-se sozinho quando se percebe que não há alguém à sua volta. Pode-se estar sozinho por conveniência, circunstância, conseqüência, oportunidade, necessidade, opção, com certa freqüência ou raramente.

É verdade que, por vezes, estamos às voltas com algo pertencente a nós a que denominamos companhia. Ela não precisa ser alguém físico ou material: se manifesta pela música, pelas letras, pelos sons, pode representar-se por um espaço, por um momento diário, semanal, quinzenal, mensal, trimestral, bem como perdurar por um desses espaços de tempo.

O que se dá é que justamente a falta da consciência de que o que está ao seu lado não necessariamente lhe deixa ausente da solidão, encobre o reconhecimento do valor que há em se encontrar apenas consigo. O fato de alguém estar junto a ti pode representar uma falta aguda de algo acalentador, potencializando a ação do “estar sozinho”, já que esse não significa estar sem um fator agradável, que lhe preencha o interior por tal ausência.

Não há mal em encontrar-se sozinho. Distante daqueles (ou daquilo) que eventualmente lhe ladeiam, abre-se a possibilidade para uma aproximação intrínseca, talvez impossível frente a precipitação humana que enfrentamos à luz lunar ou solar (às vezes durante as duas). O olhar a si mesmo quando incólume e involucrado do externo, é a passagem à globalização sensorial.

Dar-se tempo, sentir-se, cheirar-se, tocar-se, respirar-se, notar-se, observar-se, perceber-se, auscultar-se, enxergar-se, pulsar-se, deparar-se defronte a si e apenas a si... São experimentações das quais se tiram lições utilizadas nas relações que se excedem a você. Cruzar a fronteira, o limiar de si próprio, pode ser revelador, instigante, perturbador, inusitado e até surpreendente.

Conhece-te a ti, descubra-se nos outros. Fica claro, contudo, que o produto de tal contato deve ser bem utilizado, aproveitado, extraído até o sumo de modo a converter-se em benefício àqueles que dele se apropriarem. Do contrário, a ausência presencial torna-se nada além de um vazio improdutivo e assolador .

Solitudes constantes podem reverter-se em desconhecimento interno presente.

Garcia Márquez
Enviado por Garcia Márquez em 03/05/2010
Código do texto: T2234770
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.