Brisa 28
Quantas coincidências mais terão de acontecer para você cair em si de que fomos feitos para ficarmos juntos? Não é suficiente para você o fato de nos encontrarmos sempre, em lugares inesperados e sempre nosso passado ficar pairando acima de nós, tornando as palavras escassas?
Só você não percebe que as situações em que Deus, ou o destino, nos coloca quase sempre nos empurram, como uma força invisível, para que nos abracemos e deixemos, simplesmente, o amor fluir em nós, dizendo tudo o que nunca dissemos e nos trazendo uma nostálgica saudade do desconhecido que é o infinito. Ou, talvez, não haja nada disso mesmo e seja simplesmente eu fantasiando coisas, como uma desculpa, para não ter que te dizer o que eu quero tanto, mas que machuca tanto para dizer e machuca mais ainda quando calo.
É isso, eu queria dizer tanto, mas me doeria tanto ter de dizer para você tudo isso, sabendo que você me olharia com pena e diria que sente o mesmo, mas de outra forma, um outro amor, um amor menor; não menor, segundo você, apenas diferente. É isso o que me leva a escrever sempre.
Falar ao léu, para todos e ao mesmo tempo para ninguém, porque mesmo que você leia, não saberá se é sobre você ou não. Por isso eu digo aqui que a minha vontade era de te abraçar, muito perto de mim, tão perto que nos sufocaríamos, então nos abraçaríamos mais apertado, cada vez mais, até nos tornarmos um só corpo, mais que isso, uma só alma, um só coração, um só desejo. E assim, unidos ao extremo, mais que unidos, já misturados numa solução cósmica, subiríamos até o infinito e lá a mistura se faria solução, onde já não nos divergiríamos um do outro. E então, faríamos todo o caminho inverso, do infinito até o plano terrestre novamente, nos despojando um do outro, desfazendo-nos dessa solução cósmica que era nós dois. E, quando separados novamente, aqui em terra firme, eu olharia em teus olhos e veria toda a essência do infinito e você veria o mesmo em meus olhos e as palavras seriam tantas a se dizer que seriam inúteis, pois a essência do infinito estaria fluindo em nós e finalmente nos entenderíamos mutuamente.
Parece muito, não? Talvez não seja metade do que eu sinto quando te encontro nos lugares mais inesperados e tomo choques tão grandes que o máximo que consigo dizer é um oi e fazer alguma piada infame, dessas que eu sempre faço. Eu não ouso transcrever em palavras as coisas que sinto quando você fala para mim de um outro alguém, ou quando fico sabendo que há um outro alguém em sua vida. Dói. Em síntese é isso. Machuca muito. Mesmo isso sendo o máximo que consigo dizer é uma parcela microscópica do que eu sinto. E é tão difícil dizer isso a você, ou mesmo a tantas pessoas que estão lendo, que eu chego a pensar que falar com você, olhando nos teus olhos não seria tão difícil, afinal. Mas, quem sabe?
Espero te encontrar novamente um dia desses, mas que eu esteja mentalmente, sentimentalmente e com a alma preparada, pois aí, talvez, eu consiga te abraçar e te levar comigo até o infinito para não ter de dizer tantas coisas sem sentido.
William G. Sampaio [8/1/10]