O instável ser humano

Outro dia me ví pensando em como o ser humano é rico em detalhes, nuances. Somos todos tão instáveis, tão inconstantes em nossos pensamentos.... podemos até parecer tão corretos e certinhos para os outros, - Fulano de Tal é um homem de bem, não falta um domingo à missa, e leva a mulher prá passear todo sábado ! Como eu queria ter um marido assim !! - diz a velha e gorda senhora, sentada em sua cadeira de plástico, na calçada de cimento de um subúrbio qualquer, para sua amiga não menos gorda, também sentada numa cadeira de plástico.

Juvenal é um cara tão trabalhador ! - diz a vizinha, chamando a atenção do marido, aposentado, de cabelo oleoso e colado ao sofá suado, todas as tardes.

Marcinha é uma menina de família, não mexa com ela ! - diz a avó de Ricardinho, com medo de uma gravidez precoce.

Sempre achamos que conhecemos as pessoas, olhamos prá um e pensamos: - hummmm! que cara de m...... e para o outro: - Nossa, lá vem esse mala me encher o saco.... - e abrimos o nosso melhor sorriso para ele (sim, para o mala sem alça e ainda lhe perguntamos como vai a vida).

Você já parou prá pensar em quantas vezes nos enganamos ? Nas inúmeras vezes em que fazemos bom ou mal juízo de alguém, e essa criatura é totalmente diferente daquilo que imaginamos ? Talvez Marcinha nãos seja tão moça de família assim, nem Juvenal é tão trabalhador. Aquele noivo apaixonadíssimo, pode estar na alta madrugada de sexta-feira fazendo um programinha com o moreno alto, bonito e sensual da esquina....

Não estou aqui recriminando esse ou aquele, longe de mim isso.... só estou aqui divagando com meus botões sobre a diversidade de personalidades que habitam esse nosso louco mundo e de quantas personagens nos embuímos!

Sofremos pelo outros, pelo ciúme, a inveja, a raiva que muitos nos proporcionam..... sofremos pelo amor não correspondido, pela ingratidão do amigo, pelo desprezo, pela infidelidade de alguém, pelo carro mais bonito do vizinho, etc, etc, etc.

Muitas vezes sofremos demasiadamente por coisas pequenas, e nos alegramos pouquíssimo pelas coisas boas que nos acontecem.

Saimos de casa tão preocupados em não chegarmos atrasados ao emprego, ao médico, ao encontro, à reunião, que não prestamos atenção ao bom dia delicado daquela senhora, ao céu de um azul lindíssimo ou a brisa fresquinha da tarde.

Perdemos tempo demais tentando ganha-lo, deixamos ir aquela amizade que nos reconfortaria o coração, aquele irmão que precisa de um conselho, aquela mãe que se encontra sozinha e sem perspectivas agora que os filhos estão criados e só espera um abraço. Pensamos mal, pensamos bem, desejamos, odiamos, enraivecemos, brigamos, rimos de alguém e para alguém, mas não vivemos de verdade. E quando temos um infarte, um colapso, um piripaque qualquer, pensamos: tenho de relaxar, tenho de desacelerar, tenho de parar de comer porcarias, tenho de caminhar, tenho de fazer exercícios..... mas e nos libertar das amarras que nos oprime o coração, será que já pensamos nisso ? Não seriam essas amarras que nos aprisionam nessa eterna bola de neve crescente que nos faz tanto mal ? Pensemos nisso....