Então pensei em todas as vezes que tentei ser pássaro, e os pássaros nunca me processaram por tentar imitá-los.
Nunca registraram sua grande obra de voar infinitamente nos espaços decorados com arco-iris raros.
Nunca reclamaram direitos autorais das fantásticas rasantes em lagos dormentes no alto das montanhas, onde somente eles e suas águias conseguem chegar.
Será que os pássaros sabem que não são autores desses voos mirabolantes que a todos encantam, e somente a eles é dado o privilégio de voar?
Pensei também nessas vitórias tão exóticas quanto régias, que mais se multiplicam quanto mais algumas delas os homens retiram seus talos, inventando mudas que sabe-se lá em que rincões irão plantar.
Tão régias elas são.
E não reclamam.
Por alguns instantes reli alguns dos meus singelos escritos e senti corar meu rosto, antes e sempre, muitas vezes, pálido.
Nada de tão original que mereça 7 chaves em cofre de aço ou demanda judicial. Nos versos que escrevo, nenhum azul de um céu que antes de mim não tenha sido aplaudido por outros enamorados, ou amantes.
Nenhum amor que outros não tenham decantado em Versos do mais puro e lírico cantar, maior que o meu.
Nenhum ódio mais forte que alguém antes de mim não o tenha sentido.
Nenhuma esperança ou desilusão que tenham sido maiores ou mais fortes que as minhas.
Nada além do que tantos fizeram e guardaram em suas gavetas julgando, talvez, que sequer mereciam ser lidos.
Puxa... escrevo inutilidades e ainda as publico!
Nenhuma madrugada mais angustiante que aquelas já conhecidas por minha insônia de pílulas brancas.
Tudo sempre muito igual...
Pra que Direito Autoral?