As coisas que me atraem não seguem um padrão determinado. E oscilam conforme as fases de minha vida.
     Mas há desejos perenes, que independem de meu humor. Um deles é uma casa; a casa de meus sonhos. Não a casa em que sonho, mas a qual se faz presente em meus sonhos, imagens recorrentes, perenes; pois é sempre a mesma casa em essência. Pouquíssima coisa muda de um sonho a outro.
     Ela é branca, de linhas simples, entrecortadas, como se pouco a pouco, agregassem novos cômodos. Tem varanda em L, protegida por treliças das quais pendem trepadeiras. Há cadeiras confortáveis, algumas de balanço, para acomodar quem queira contemplar o jardim ou apenas conversar.      Uma mesinha acomoda um vaso de flor, um bule de chá e duas xícaras, sobre uma toalha branca, entremeada de renda. É tão nítido, que poderia descrever seus recortes.
     O piso é de madeira desgastada pelo tempo, mas que proporciona aconchego. Há muitas janelas, umas grandes, outras nem tanto, mas todas deixam entrar a luz do dia e a luz da Lua, sempre acompanhadas de um aroma bom, morno, terapêutico.

     Em minha casa pode-se escutar o silêncio.

     Em meio a meus desejos, em minha presença física e assertiva, imporia o som de um riacho mais ao fundo, barulho de água por entre pedras, que tanto amo. Árvores, muitas árvores, colinas, campos e céu, muito céu é o que eu veria, fosse qual lado olhasse.
     Entremeando o jardim, canteiros com minhas ervas aromáticas preferidas, pois melhor perfume não existe. Manjericão roxo, anão e gigante, alecrim, hortelã, tomilho, manjerona, orégano. E ao cuidá-las, escutariam sempre A. Marcello, adagio 2º movimento, como já faço agora, em minhas jardineiras de apartamento. Crescem viçosas e perfumadas.
     Uma horta não faltaria, com tomates de todo tipo – o que seria do tomate sem o manjericão – verduras e legumes variados. É claro, para meu tão apreciado antepasto, beringelas ...

     Em minha casa, só andaria descalça.

     Ah! E teria lareira. Sim, para o inverno. Mas seria elétrica, pois sou ecológica. Exceção somente para o fogão à lenha. Mas em meio a tanta Natureza, encontraria galhos, tocos e pedaços de madeira com facilidade.
     As cercas seriam pintadas de verde, para se confundirem à paisagem; mas teriam mini rosas entrelaçadas em cada estaca. O portão seria em arco, coberto de hera, que dividiria seu magestoso espaço com brincos de princesa.
     Gatos na varanda e coelhos no jardim (castrados, é claro, sou prática). E pássaros, muitos pássaros, variados tipos, mas todos livres; prisioneiros em minha casa jamais. Prisioneira somente eu em meu corpo, por enquanto.
     Teria uma sala ampla e confortável para receber minhas amigas e amigos; a cozinha, além do fogão à lenha, teria uma linda mesa redonda, com cadeiras diferentes umas das outras. Armários e louças antigas, presentes de pessoas amadas. Quadros, muitos quadros pelas paredes de toda casa. Bordados espalhados ...
     De meu quarto, claro e arejado, veria o riacho. Imagine, dormir ao som das águas nas pedras.


     Sentaria em minha varanda, contemplando a vida; por vez sozinha, por vez acompanhada, pois quem habita meu coração, também habita minha casa.


              A porta ... estaria sempre aberta ...










SIMONE SIMON PAZ
Enviado por SIMONE SIMON PAZ em 19/04/2010
Reeditado em 01/11/2011
Código do texto: T2207224
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