Memórias apagadas.

AS vezes eu não consigo acreditar que o tempo passa. Cada segundo é tão imperceptível, indecifrável. O tempo percorre horas, dias, semanas, meses, anos. E não nos damos conta de que ele passou.

As vezes, saudozista, vasculho todas as lembranças, miro fotos antigas, objetos que tanto valiam para mim, páginas com centenas de palavras, que um dia foram escritas por alguém.

Quantos momentos não passaram em um reflexo de luz. Quantas lembranças parecem ser automaticamente deletadas da nossa memoria? E quanto elas significaram para nós?

O primeiro olhar para o mundo.

O primeiro toque macio.

O primeiro sorriso.

A primeira vez que você se sentiu feliz.

O seu primeiro beijo.

A suas conversas mais enérgicas.

Os toques mais conservadores.

Ostento um dia, poder reviver todas as emoções que já me fizeram ser feliz. Ostento poder respirar e enfrentar novamente os desafios como uma nova lição para mim. Ostento poder gostar das coisas que já gostei, ficar perto das pessoas que eu já fiquei, estar com quem já se foi, tocar em um momento tão marcante, que por mais inesquecível que seja, fica apagado no cotidiano medíocre. Queria viver tudo de novo.

Quanto vale um sorriso antigo? Uma lágrima despejada? Um sofrimento angustiante? Uma felicidade perpétua?

E tudo isso se vai, com as horas, com o tempo, sem que você nem perceba.

Seus gostos, suas músicas, seus momentos, suas pessoas, seus pensamentos.

O tempo carrega, para que nós nos recordemos eventualmente. Como uma ponta de agulha descobrindo o infinito cobertor da memória.

E tudo que o tempo "apagou", vai sendo substituído, e substítuido.

Até não nos lembrarmos mais.

E por mas frustrante que seja, é assim que funciona a vida. Você vai respirando em cada momento, vivendo como se fosse o seu último. Esperando que as lembraças as vezes doam, as vezes despertem um saudoso sorriso.

Vamos seguindo sem ligar para o poder do tempo, de levar tudo o que um dia nos pertenceu.

Apenas restam-nos, MEMÓRIAS APAGADAS.

Lívia Rodrigues Black
Enviado por Lívia Rodrigues Black em 17/04/2010
Código do texto: T2203283
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