Chuva que não pode parar
Guiberto Genestra
Junho/2004
Não quero que a chuva cesse.
Estou há horas fitando o céu e não quero que a chuva cesse.
E rogo não ter que rezar, para que a chuva não cesse.
Gosto de admira-la
Vendo ela da minha sacada proletária.
Desenho nela, sem censura, uma aquarela em preto e branco.
Um número sem fim de gotas a despencar de um céu crioulo
São tantas! Talvez porque sejam multiplicadas, diante do meu olhar retangular, que parte da janela de meu quarto.
Quando se encontram, cá embaixo a metamorfose do meio lhe dá outro papel.
Estatelam-se no plano e se transformam em tinta!
E cada gota dessa nova tinta, torna mais negro e mais escorregadio, o cinza-pálido do asfalto empastelado da madrugada.
Nem sua impermeável resistência impede que as águas lhe façam companhia
Nem sua arredia proporção na terra lhe impede que seja tomado
Enquanto a chuva cai
Enquanto fico da janela desejando que ela não cesse