MERGULHO

Tomo fôlego novamente, me levanto e saio da água. Meu corpo frutua como se não houvesse gravidade, e meus dedos doem. Sinto uma sensação estranha, como se não fizesse parte desse mundo, como se não estivesse em meu mundo. Sou como um anfíbio, a espera de voltar para a terra. Sinto falta ainda não sei do que, mas sinto muita vida dentro do aquário que criei sem querer, para morar.

Volto a mergulhar, só que dessa vez não desço muito, tenho medo de me afogar nas mesmas água, então, fico na superfície, rasa em sofrimento, mas rasa em sonhos...

As pessoas tentam me puxar para novas águas, mas meu corpo se acostumou com aquelas ondas, e precisa delas como de minha própria pele.

Como é difícil fingir que o mundo é perfeito, como é frio e sem vida o lado de fora da água, com o vento que sopra! Como é melhor o interior das águas, mesmo quando elas nos afogam...

Lá não há vazio, as vezes é triste, mas não existe solidão, ou falta de carinho. As vezes os sonhos ficam encobertos pelas algas, mas eles estão ali, em algum lugar, e agora, onde estão?

Como viver em uma fonte seca, e não sentir sede? Como viver livre, presa ao aquário que criei? Como quebrar o aquário sem morrer de sede, ou sem construir um oceano?

Preciso do mar, mas não encontro nem mais o meu querido aquário...

Gostaria de voltar a me sentir completa, mas falta muito de mim, parte enorme de mim, que talvés não sonhe, mas traz conforto, e cria paz em meio a guerra...

Texto escrito em outubro de 2008.

Aline Ap Guiducci
Enviado por Aline Ap Guiducci em 08/04/2010
Código do texto: T2185684