E o meu jardim da vida ressecou morreu...
Ana se levantou, mas não se levantou. Ficou olhando o vazio do quarto da pequena pensão. Olhou em volta, e só o que viu é o vazio do quarto. Tinha ali uma cama, uma cômoda pequena, e um criado mudo. Pro tamanho do quarto, não era tão pouco. Então porque o quarto estava tão vazio? Porque sentia como se não existisse nada no mundo além daquele minúsculo quarto vazio, sem vida, sem cor. Ana sonhava com tanta coisa, queria uma casa e só conseguiu alugar aquele pequeno quarto, em uma pensão barata, onde a dona, uma senhora de seus 60 anos, chata e mal humorada, grita as 7 da manhã do dia 05, dizendo:"hoje é dia 5, vê se não esquece o aluguel, senão dorme na rua!".Mas hoje ainda não era dia 05, e Ana acordou tarde. Lembrava-se pouco da noite anterior. Saiu com um amigo, e como sempre, procurou desesperadamente um sentido pra tudo. Tentou conquistá-lo, se conheciam a muito tempo, e as vezes saiam juntos. Ela gostava dele, da sua companhia. Um dia ele disse que ficar com alguém só pra não ficar sozinha não era bom, que ela tinha que se valorizar. Ontem ela tentou de novo medingar um pouco da atenção, em vão. "Grande Valorização!" pensou. Ele como sempre, tinha suas coisas pra resolver. Sairam juntos, se divertiram, tudo bom como sempre, mas pela manhã, o quarto ainda era enorme, e Ana ainda estava sozinha. Ana se levantou, lavou o rosto na pequena pia do lado de fora do quarto, em um lavabo antigo e encardido. Olhou seus olhos no espelho quebrado. Eram bonitos, sim eram olhos bonitos. Ela era bonita. Sorriu amarelo, amarrou os cabelos em um rabo de cavalo, entrou e se trocou. Abriu as janelas de madeira azul do quarto, e deixou o sol entrar. Até o sol estava pálido, e algumas nuvens brancas como algodão o cobriam em parte. Mas qualquer luz, por menor que pareça e melhor do que aquela penumbla. Sim, ela estava acostumada com pouca luz. Ana sorriu. Ao longe, alguém ouvia Djavan. Ana olhou sua cômoda, e viu a rosa que o amigo lhe dera na noite anterior. "Como ela murchou rápido!" pensou. Acho que é assim mesmo, só as flores de plástico não morrem, mas também não tem perfume. Que morram as flores então.
* personagem fictício e história fictícia.