EXPECTATIVA E PRAZER
O Redundante Disfarce da Felicidade
Existe um ditado que diz assim: “a expectativa aumenta o prazer”. Certo, realmente a psicologia pode até explicar isso, porque, diante de algo que vai acontecer, usamos toda a nossa capacidade de imaginação para antecipar na mente e curtir o momento conforme a nossa “expectativa”. Entretanto, sempre imaginamos formas e cheiros, lugares e estilos, pessoas e sensações que não se encaixam perfeitamente na figura real do que recebemos. Sempre falta alguma coisa que nunca sabemos o que é.
Nascemos querendo coisas. Se não é o peito da mãe, é o colo de alguém para nos acalentar. Somos eternos sedentos por receber algo. O bico fica aberto à espera do alimento, e se ele demora chegar começa o choro.
A sensação de felicidade vendida pelas ruas do mundo, está disfarçada numa embalagem que tem cores e formas conforme o cliente. Tudo feito para agradar o gosto e a demanda de pessoas que perambulam por aí, viciadas em doses cada vez maiores desse veneno redundante chamado “satisfação”.
Redundante. Esse termo parece estranho no meio de um texto que corre falando das aspirações da alma humana. O que seria redundante então? Quando usamos expressões como estas: “amor verdadeiro”, “carinho sincero”, “amigo leal”, e coisas desse tipo, estamos sendo sim, redundantes.
Não há necessidade de eu dizer que meu amor é verdadeiro, pois a verdade é um dos princípios básicos do amor. Carinho sincero é um erro grotesco, porque um carinho o é somente porque está impregnado de sinceridade, e, a lealdade é a base firme e concreta de uma amizade. Não precisamos adjetivar fatos como esses em nossas vidas. Caso seja necessário um enfeite no sentimento de alguém, existe algo de errado e temos que rever toda a nossa vida, ou a relação que estamos vivendo.
Nosso contato com as pessoas produz experiências que nos fazem perceber o valor da palavra “felicidade”. Nossos problemas vividos juntos, nossas vitórias e derrotas, saboreadas em conjunto, fazem a vida ter um significado mais profundo. As relações entre as pessoas não precisam de disfarces, novas palavras ou sentidos. Pois, se há verdade em nosso coração e disposição para até mesmo sofrer as conseqüências advindas dela, poucas palavras bastam. Talvez, um simples olhar possa dizer o que milhões de palavras não poderiam.