Escrever é desabrochar
Escrever é desabrochar.
Desabrocha em mim um veio de esperança toda vez que um pensar se transpõe em escrita.
A escrita que decorre do súbito inspirar, por vezes desanuvia o pensamento, em outras é a gota de equilíbrio necessária para que não sucumba em vão delirar.
Antes que derrame por sobre mim a tristeza infinda, o desejo de estar em harmonia jorra em cascatas, então jorram ao papel letras e idéias, sonhos e devaneios...
Nas estações o tempo se apresenta diverso e incontestável, o aroma da primavera, o calor do céu azul de verão, o despir das árvores e os tapetes sépias do outono, o clima do inverno que implora o aconchego. Em meu existir um tempo quer alegre ou triste, quer amável ou vazio, quer lúcido ou em torpor, quer denso ou em leveza conduz a um canal que desabrocha em versos, rimas, letras e sentidos, palavras e imaginação, que faz e refaz um único caminho.
O tempo inexprimível que somente se comporta em telas e teclados de uma máquina parceira, que cabe tão somente nos lápis e papéis que abrigam a avidez do compor.
Escrevo por mim e por meu abandono, por ti e tua solidão. Escrevo para preencher nossos vãos, nesgas incômodas do interior.
Escrevo e desabrocho. Algumas vezes me ocorrem flores, em outras desabrocham espinhos.
Inefável desabrochar.
Publicado em “Poesia on-line”, do Fórum do Recanto das Letras, Laboratório de Criações Coletivas em 05/04/10 cujo mote foi: Escrever é desabrochar.