Ira Adolescente ou Versão B

"Uuuh, e aqui se forma um rebelde em seu estado mais sincero. Rebeldes são os que vão onde os outros não vão, aqueles que nadam contra a maré 'normal'. Curioso notar então como seu maior ato de rebeldia ficou na resignação. Não que fosse sua intenção, mas acabou sendo o que mais atraiu a atenção das pessoas ao seu redor. Sem fazer nada estava atraindo a atenção das pessoas que imaginavam que deveria estar sendo útil. E na sua catarse, obteve ao invés de ajuda, a fúria dos outros, considerado insubordinado! Curioso imaginar que sua rebeldia descoberta na inércia foi o que de mais emocionante aconteceu na sua vida por anos. Mesmo não fazendo, mesmo sem ação, surgiu a reação, e muito violenta, da parte da sociedade. As leis naturais não são as que regem a mente do homem. O homem não é ser natural."

Meados de 2003

5:12

Quero mudar!

Quero crescer devagar!

Quero evoluir como pessoa!

Quero me sentir bem comigo!

Quero vencer minhas barreiras!

Quero saborear conquistas!

Quero finalizar!

5:14

13/11/06

"Qual a peça fundamental do quebra-cabeça que eu vivo? Juntei peça sobre peça para descobrir que a pintura da caixa não é a figura que montei. Tá tudo errado! Mas porque deu certo, então? Se eu encaixei as peças, ficou um quadrado, pq a imagem não corresponde? Se eu fizer ele certo, e sei que tem como, o resultado seria mais satisfatório? Ah, não, não mesmo! Eu fiz do meu jeito algo que foi feito por milhões de uma forma igual. E não ficarei contente de ter o padrão de volta agora que fiz o novo. O problema é q ainda sou escravo da forma quadrada. É isso que me decepciona..."

"Estou agradecido. Agora sou capaz de olhar para as pessoas e ver além do que elas mostram. Não por olhos, por gestos. Sim, eles importam. E mais que gestos, as palavras. Que doces armas nos deram quando 'inventaram' elas. Várias palavras não explicam uma coisa que se resume a poucas três enquanto quatro explicam satisfatoriamente algo inexplicável. Seu lugar revela particularidades de sua função e sua forma revela seu sentido. Como quando nosso garoto pensava que amou sua mãe. Amou por quê? Porque não ama mais. Ponto. Sangue frio suficiente pra assumir isso ele tinha, mas ainda faltava uma frieza interna maior, uma frieza na alma, se quiserem chamar, para aceitar que depois de tanta guerra, de tanta farpa trocada, uma pele cicatrizada rasga com o menor dos ferimentos. Por isso o amou virou amava, mais justificável. Eis a semântica dos sentimentos"

19/11/06

"Foi a primeira vez que vi esse efeito. Ao abrirem a boca, notei como as palavras que usavam chegavam em seus ouvidos e tocavam suas almas. A visão foi de corvos atacando um pedaço de carne e a cada palavra essa ilusão piorava terrivelmente e logo haviam duas almas completas retalhadas, cheias de marcas pulsando como carne viva, vibrantes, respigando uma amargura que gotejava em cada ponto atingido. Essas feridas deixariam cicatrizes horrendas e o efeito devastador momentâneo delas foi a enxurrada de sentimentos que violaram as aberturas, envolvendo-os como fogo e queimando o orgulho de ambos com uma culpa devastadora. E onde antes havia união, agora momentâneamente haviam almas retalhadas e reduzidas a cinzas. E não importa o esforço pessoal que houvesse para remediar, feridas na alma demandam tempo e você nunca saberá se foram curadas porquê a cicatriz esconde dentro de si a mácula por trás da aparência."

25/11/06

"O telefone tocou. Estava aguardado aquela ligação desde que o telefone de sua casa tinha sido cortado. Seria com aquele telefonema que tudo se resolveria, iria para longe de todo o sofrimento que cercava a sua vida e poderia respirar a tranquilidade, a paz que uma vez sentira e hámuito tinha sumido. Naquele telefonema também suas angústias seriam colocadas para fora com uma virulência corrosiva, cortaria a garganta da arrogância nascida dentro dele e mandaria a culpa jorrar de sua jugular infectada pelo desespero. Segundo toque, a ligação não cairia. Foi quando agarrou o telefone que sentiu o peso de seus próprios erros novamente, empurrando as angústias para dentro de si como um compressor, abaixando a faca de esperança que laceraria sua arrogância pela garganta, prendendo a culpa alheia dentro de si. Um alô e mais cinco minutos de conversa tola, palavras que já havia ouvido, aumentaram o desespero dentro de si com a ajuda da brutal indiferença, da certeza que nada mudaria. E foi como se ali, colocando o telefone no gancho, sentisse que sua vida tivesse ido embora. Foi como o suicídio, mas seu corpo insistia em respirar."

04/12/06

"Eu derramo meu calor sobre a paisagem gélida pois tem sido desesperador ter essa chama em mim e ver a situação ao meu redor com ares de abandono. Eu tento pintar a vida com as cores que tenho dentro de mim e aproveitar o que possuo de melhor, mas minhas palavras ardem na garganta e nunca saem mais do que mornas de minha boca, minhas lágrimas incendeiam meus olhos apenas para refrescar essa maldita chama interna e enquanto meu sangue que bate quente naturemente em minhas veias não é derramado, não posso ver nada que eu faço vencer essa frieza cáustica que se tornou a humanidade."

08/12/06

"Deus, está me ouvindo agora? Bem, porquê tenho uma reclamação para fazer e quero que escute com atenção. Tua palavra diz que nosso pecado primeiro, a busca pelo conhecimento do bem e do mal é o pecado que todos carregam. Mas não há punição maior que nos conhecer só para notar que nunca nos conheceremos. E você ainda nos expulsa do Éden para ter que escolher entre lutar para viver e ser derrotado sem lutar, sem jamais viver plenamente, observando sempre as coisas passarem fluindo ao nosso redor e não captarmos nunca? Eu tenho uma fome de conhecimento que não pode ser aplacada, que me dizima e me cansa, e ainda carrego o fardo de um pecado que não cometi? Me deixe regurgitar o fruto proibido, arranca ele de mim que serei muito mais feliz. Mas punir tua ovelha por isso é um erro. Seu único erro."

15/12/06

"De onde vêm essa ingenuidade constante que me desarma contra essas investidas sutis das almas mais marcadas que sabem criar brechas em minha muralha de taipa? Infantilidade não é. Crianças de seis anos já sabem ser convictas enquanto que um novo vento ideológico me arrebata até me chocar contra uma rocha de bom senso, e a palavra choque poucas vezes serviu tão bem como agora. Burrice muito menos, coisas mais complicadas se aprendem em salas de aula da escola da vida, muito mais difíceis por não terem utilidade real. Será que minha alma cicatriza muito rápido? Se for, não cicatriza bem. O veneno da mentira e da discórdia que a ingenuidade deixa correr em minhas veias pode muito bem se tornar o antiofídico das traições e os anticorpos que ele cria podem minar minha carga de confiança no ser humano, já muito abalada, e fazer com que eu proteja até aquilo que menos importa no meu rol de proteções: eu!"

18/06/07

"Eu queria dizer que eu não suporto sua insistência em me chamar de traidor, mas sua fraqueza para essa verdade me faz ter medo de te causar mais sofrimento do que você se causa. Não é questão de piedade, eu só não vou lançar minha espada contra um masoquista pois isso sim é doentio. É mais higiêncio assistir de longe a você tentando fazer a limpeza da sua espada enquanto as feridas ainda gotejam bem lentamente, mesmo que não tenha o mesmo prazer de um golpe bem dado. Apesar de tudo, esse é um terreno em que você jamais vai poder me chamar de sujo."

19/06/07

Resolução:

"Eu vim

Mas pode ir, criancinha, seu tempo será melhor. Irá saber das coisas no tempo certo, não terá de pensar em excesso.

Estão pensando em você para que o pesamento no eu não seja necessário e gaste com os outros suas perguntas.

Felicidade não ficará em pistas ocultas de dança para ser fumada, bebida ou cheirada ou em templos grandiosos para ser mastigada.

Em farmácias achará sorrisos melhores. E mesmo que não cheire ou toque, será tão genuína quanto.

Viverá no eu terceirizado, no conhecimento comunizado, na fé diluída, nas sensações engolidas e na alegria conquistada por pessoas que, como eu, voltaram sem provar do futuro."

15/06/08