A função da literatura

Horácio já dizia que a literatura tem uma função bem nobre, deleitar ensinando-nos, a ser melhores, mais sábios, mais cultos. Discordando dele, artistas do século XIX vão pregar a arte pela arte, mãe de uma literatura que nasce apenas da necessidade de expressão do escritor, que não deve ser encarada como uma ferramenta de esclarecimento social, mas valorizada pelo prazer que oferece. Paradoxalmente, vários autores da época vão usar a escrita para pregar e imortalizar as ideologias nacionais de um período eufórico, devido as promessas liberdade que a modernização tecnológica fazia.

Na tradição que hoje seguimos nos estudos literários, fica a lição de Antonio Candido, que retoma Horácio pra dizer que a literatura tem função educativa, nos põe em contato com outros lugares e tempos, mostrando como viviam os homens antes da invenção do cinema. Claro que esse mundo que ela nos apresenta nunca existiu fora das páginas do livro, assim como as imagens em movimento do cinema revelam um mundo organizado e reconstruído artificialmente.

Então por que ler literatura? Simplesmente porque é divertido. Podemos ler um conto de Machado de Assis para saber como se expressava (ao menos no discurso escrito) uma pessoa do século XIX, ou para saber quais os gostos, os valores e os costumes das pessoas daquela época. Mas é bem verdade que podemos recorrer a essa leitura para nos deliciarmos com o trabalho de linguagem desse homem talentoso. Para rir, chorar ou pensar através das experiências daquelas personagens de outro "planeta". Para viver, por uns momentos, fora desse espaço-tempo a que a natureza nos aprisionou.

Existem várias formas de conhecer o mundo, e talvez a mais global, direta e lógica seja àquela oferecida pela física, abstrata e ao mesmo comprovável matemática e experimentalmente, todavia as informações multiformes e parciais que a literatura nos oferece pode nos levar, se somadas às outras, mais longe na investida em entender esse complexo e contraditório mundo do qual somos peças transformadoras.

No fim, uma ideia de literatura não exclui a outra, o que está em jogo são as aspirações do leitor, diversão ou estudo, que por sinal nos acostumamos a entender como categorias antitéticas. A nosso ver, mais vale misturar os motivos, ser leitor sempre ambíguo, que mal sabe dizer quando está olhando com a mente ou com o coração.

Edimara Aguiar
Enviado por Edimara Aguiar em 02/04/2010
Código do texto: T2173344
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