APRENDIZADO
Onde está o maior aprendizado? Nos livros, na arte, nos conselhos, nas escolas?
Aprendemos mais é com o outro - com aquele que cruzamos nas estradas, nos caminhos, nas encruzilhadas da vida; com aqueles que nem desconfiam, nem percebem que são nossos professores.
Com minha mãe aprendi a ser corajosa e transparente. Um dia alguém disse: - “Fale baixo senão os vizinhos escutam”. Respondeu mais alto ainda: - “Quero, sim, que me escutem”. “Não adianta tapar o sol com a peneira”.
Eu era muito pequena, porém entendi tudo e resolvi ser como minha mãe: nunca tapa o sol com a peneira; ser autêntica e transparente. Aprendi com minha mãe que todas as pessoas merecem respeito, o mesmo respeito: pobre, rico, preto, estrangeiro, bonito, feio, ruim, bom... A todos ela tratava com carinho – igualmente.
Com meu pai aprendi a guardar e valorizar. Ele, como minha mãe, não tinha preconceito e ajudava muito os mais necessitados: dava banho num bobo, no quintal de nossa casa, ensinava uma família negra e pobre, mas trabalhadora, a empregar na bolsa de valores, as economias. Era amigo de todos e adorava conversar. Tudo, para ele, tinha uma serventia. Se visse na rua um pedaço de barbante ou papel aproveitável, sem a menor cerimônia, apanhava-os, dobrava-os e dizia: - “Vou guardar. Ainda me serão úteis”. Aprendi a valorizar a natureza quando me levou ainda menina para ver a beleza do sol nascendo. Levantamos às quatro da madrugada, ainda escuro. Tanto meu pai, como minha mãe me passaram valores incomensuráveis. Não através de regras de conduta, mas através de exemplos. Era menina quando meu avô morreu. Convivemos pouco, mas ele me ensinou muita alegria de viver, aceitação do que a vida oferece. Tocava violão, gostava de dançar, fazer verso... mesmo viúvo e pobre enfrentando sérias dificuldades.
Na minha casa não se comentava vida dos outros. Minha mãe detestava esse tipo de coisa. Elogiavam sempre.
E, os amigos? Ah! Como aprendemos se abrimos nossos corações e trocamos experiências. Com uma amiga aprendi: - “Puxa! Você é muito agitada! Quer fazer mil coisas de uma vez! Deita depois do almoço, fecha os olhos e descansa”. Foi um belo aprendizado! Com outra aprendi a ser mais econômica. Ensinou-me a organizar o guarda-roupa e freqüentar menos salões de beleza. Aprendi a ouvir mais, falar menos, a ser mais humilde e enxergar o outro. Com muitas descobri receitas de culinárias de dar água na boca.
Nesse maravilhoso convívio, querendo sempre aprender, vou enriquecendo minha vida e selecionando os pseudo-professores. Aprendendo, também, com filhos e netos. Sinto uma enorme obrigação de estar sempre reciclando meu aprendizado. A vida é dinâmica e mutável; tudo muda a cada ano, com muita rapidez – valores materiais e espirituais.
Como reciclar? Com netos e filhos. A cada dia aprendo mais e me convenço de que, realmente, se não ficar esperta, caio em desuso.