O gosto é pessoal
O gosto é algo pessoal, de certo que sim, mas o que isso quer dizer? É um escudo pra muitas pessoas que são colocadas diante das próprias escolhas, como se estas palavras fossem um passe incontestável. A liberdade existe, mas vá lá, será que é bem assim?
"Gosto", segundo o dicionário, tem vários significados e, entre eles, o que nos interessa é, acredito, este aqui: "faculdade de sentir e apreciar o belo". O "belo", segundo Hegel, não tem explicação, portanto, não é dele que temos de falar. É esse o principal ponto da questão do "gosto", o que importa não é tanto o objeto, ele existe porque foi feito, se foi feito, principalmente numa sociedade capitalista, é porque foi demandado... e isso nos leva a quê? A você!
É o seu "gosto" que, aparentemente, orienta a produção cultural. Veja bem, se o artista é um profissional, se ele precisa comer, por que ele faria algo que não fosse apreciado a ponto de ser comprado? A menos que ele seja patrocinado por alguém, o artista precisa atender o desejo dos seus clientes. E isso nos leva a quê? A você, de novo!
Se o gosto tem a ver com prazer, pensemos, o que as pessoas consideram prazeroso? Será que escutar a música com o mesmo tipo de batida é prazeroso a longo prazo? É preciso ter um monte de músicas falando a mesma coisa em todas as rádios e mídias? Será que as pessoas não estão com seus aparelhos sensoriais viciados em experiências repetitivas de prazer, como se esse sentimento só pudesse ser obtido com aquilo que é familiar, seguro?
Ao contrário do que se imagina, penso, quando se evoca o gosto como defesa de um objeto, ou uma situação, não se está falando tanto da coisa, portanto, cuidado, neste momento é quando você está se expondo, exibindo sua personalidade, sua constituição enquanto pessoa sensível, sua maneira de enxergar o mundo, sua relação com a experiência de prazer, e dando ao outro a imagem do ente a que se propôs. Seu cartão de visitas é de sua responsabilidade.