Protesto
Em protesto
Larguei as escadas
Fui de elevador
Escadas rolantes
Metrô
Em protesto larguei meu nome
Fui anônima
Calada
Olhos caídos
Pupila molhada
Mas senti mais raiva que dor
Por isso larguei as escadas e
Fui de elevador
Deixei as unhas crescerem
Os cabelos crescerem
Comi pouco
Dormi muito
Em protesto perdi a hora
Perdi o pudor
Uso roupas velhas
Sandálias velhas
Cara velha de ontem
Sem lavar
Maldigo em voz alta
Em público
Na escada rolante da vida
No elevador
Toda essa gente que passa
Toda essa amorfa massa
Sem amor
E de repente
Em protesto
Quem sabe
Talvez
Por que não?
Foram me achando doida
E me deram atenção
Descabelada
Maltrapilha
Sempre suada
E assim foram reparar em mim
Que coisa!
Recebi
Bom Dia
Boa Tarde
Boa Noite
Como tem passado, frio, não?
E fui me enraivecendo mais
Um dia, em protesto
Dei de olhar pruma criança
(confesso, feia como a mãe)
Disse a ela em qualquer língua:
Olhe o céu, o mar, eles estarão sempre no mesmo lugar
mas suas mãozinhas pequenas, ainda lisas, irão crescer, envelhecer e morrer, sem trocar de lugar céu ou mar.
Levei uma ou duas
Guardachuvadas
Mas me senti feliz
Bebi chá no viaduto
Vi o sonho amadurecer
E caiu do pé de tão maduro
Apodreceu na terra fofa
(Nem quis saber)