Nudez de alma
Dispo-me agora de toda resitência que ainda não me é simbiótica, mas não sei se poderás me ver nú. Nú jamais estarei, pois há muito eu nascí e desde então eu me visto do que tenho visto. Todos os meus amores, todos os meus ardores, todas as minhas promessas – que são minhas de origem e as que me foram dadas de presente – sempre farão parte do que me veste, ainda que só sejam a base, o forro de cada bela peça. O que temo, porém, é que os alfinetes que rejuntam o que me veste, que não deixam ir ao chão a proteção que criei contra o frio, nos espetem em nossos abraços. Conheces bem o mundo, []! Sabes que todos são muito bruscos! Uso alfinetes, pois sei que costuras se rasgariam ao primeiro choque. Façamos então um trato? Se prometer me abraçar bem forte, tiro meus alfinetes e tú não deixará minhas vestes caírem. Em troca, juro te proteger e te guiar pelo caminho sem te deixar cair nos espinhos em que eu me ferí.
Confesso, porém, que terei que, pelo caminho, deixar parte das minhas vestes irem ao chão para que o calor não nos sufoque, mas aposto que não será problema algum: se você me prometer não me soltar, eu costuro o que faltar e o que sobrar no meio da estrada. Acho que teremos tempo!