A verdadeira faceta do Amor
Quando se ama se insere no ser amado um outro ser diferente,
E este ser diferente é uma parte de dentro de ti mesmo;
Dessa forma se transfere para o ser amado uma nova imagem,
Com desejos, formas, e pensamentos de quem projeta tal sentimento a quem ama.
O que mais se ama são sensações, desejos e pensamentos do próprio ser o qual transferiu e projetou no ser amado. Ama-se coisas extraídas de dentro de si mesmo inseridas no corpo e na alma do ser amado. Por isso, a decepção é uma colisão e um choque de imagens que se tornam divergentes entre a verdadeira essência da pessoa que se está amando, e a outra essência que foi projetada por quem ama, e é justamente isso que causa a dor e a tristeza da decepção de quem ama.
O verdadeiro Amor nunca obtém quem ou o quê se ama, no sentido literal dos verbos “obter, ter, conquistar, possuir”. O verdadeiro e sublime Amor, seja qual for o ser ou objeto amado, o verdadeiro e sublime Amor é sempre inalcançável, inatingível, intocável, em suma, é sempre idealizado quimericamente. Por quê? Porque só amando dessa forma o Amor se torna eterno, livre, cheio de luz, se torna uma fonte de Beleza e de Conhecimento, pois Ele sempre estará livre para evoluir, transcender, embelezar, e frutificar aonde queira, além de todas as fronteiras onde os relacionamentos humanos só limitam toda a plenitude que há no verdadeiro e sublime Amor. Haverá dor nessa forma de amar? E onde não há dor enquanto se está vivo aqui?
Há também um outro lado a ser analisado sobre a questão do Amor e do Eu: O homem ama desmedidamente a si, mas não suporta a si mesmo. Logo, é preciso criar um engodo para si mesmo. Diante do espelho de sua realidade, o homem vê suas misérias, suas imperfeições, sua banalidade, e fraquezas. É preciso logo assim preencher o vazio do eu, não somente com ocupações e divertimentos, mas também se faz necessário atrair a admiração e a estima alheia, dos outros. Mas para que o homem possa atrair a admiração e a estima alheia sobre o seu eu, ele não poderá deixar transparecer o seu eu verdadeiro, posto não ser amável, admirável. Ele então constrói um outro eu, enfeitando-o com todas as qualidades que são valorizadas pelos homens, a fim de ser aceito, louvado, admirado, respeitado. Isto o que mais presenciamos constantemente em nosso nossa época onde a superficialidade dirige o querer e o gosto da sociedade.
Desejando ser o centro da admiração e atenção alheia, o Eu forja uma imagem de si e tenta impô-la aos outros. Esta imagem falsa o Eu a toma por realidade, e passa a acreditar nela, e a viver por ela. Como imagem é uma ilusão que, devido à credibilidade, iguala-se à realidade. Logo o Eu é enganador, torna-se num enganador compulsivo. Sim, é possível enganar a si mesmo, mentir para si mesmo, e alimentar-se diariamente de ilusões.
Em suma: ou o amor é projetado de algo ou coisas de si mesmo para o ser que se ama; ou é uma incorporação de fatores externos para ser melhor aceito pelos outros, e com isso se introduz em si um alter ego para ser amado pelos outros.