Minha vergonha

Senti vergonha por ser quem sou; por sentir o que senti.

Senti vergonha dos meus pensamentos; das minhas dores.

Senti vergonha das minhas angústias, da minha falta

De compreensão, de gratidão.

Senti vergonha da minha falta de amor ao outro,

E a mim mesma.

Senti vergonha dos meus receios, das minhas ânsias

Fúteis.

Senti vergonha do meu lado estúpido, rude; das minhas

Vestes, do meu egocentrismo, da minha mesquinhez.

Senti vergonha dos meus questionamentos e das minhas

Ações inúteis.

Senti vergonha da minha falta de fé; das tantas vezes

Em que adiei o perdão.

Senti vergonha de tanto tempo que tenho perdido.

Senti vergonha do quanto tenho desperdiçado essa minha

Existência, minha vida nesta escola onde tenho escolhido

A dor, ao invés do amor.

Senti vergonha da minha indisciplina, do tanto que tenho

Sofrido; do tanto que faço outros sofrerem.

Senti vergonha e comparei-me ao faminto que recusa o pão

Por pensar que não tem recheio, a julgar pela aparência.

Senti vergonha por sentir-me melhor ou pior, quando devia

Sentir-me igual: aprendiz.

Senti vergonha da minha vaidade por um vocabulário rebuscado;

Vergonha da minha ignorância.

Senti vergonha por viver a me esquivar das mudanças.

Senti vergonha por não ter (sequer) a coragem de me exibir,

Para não me mostrar falha - o que na verdade todos somos.

Senti vergonha por ter preguiça de mastigar, enquanto

Tantos outros não tem o que comer.

Senti vergonha por ter tanto poder em minhas mãos e

Evitá-lo; fingindo não saber ou não desejando aprender

Como usar.

Senti vergonha por não saber como agir; nem me sentir tão

Grata quanto deveria, sendo atendida em todas as minhas

Necessidades, mesmo quando não sei quais são, ou como

pedir.

Senti vergonha por receber tão belo presente e não ter

Sabido agradecer, pelo simples pensamento prepotente em

Achar que sei o que sou merecedora... Ou não.

Senti vergonha por sempre sentir vergonha de tantos olhares

Voltados a mim e não expressar minha alegria com o

Abraço fraterno e sincero que, em determinado momento,

Desejei ofertar a um irmão.

Senti vergonha por não retribuir o carinho de tantos amigos

Que insistem em e apoiar e me suportar, ainda que saibam

que nem eu deseje fazer por mim.

E, essas e outras frases ecoam, gritando aos

Quatro cantos da minha mente sempre fatídica, tentando-me

Trazer à realidade.

Peço a Deus que estas palavras por muito "ressoem" e me

Tragam coragem para largar a mochila com bagagem que já

Não mais me é necessária.

Agradeço de pronto, pois sei que irá chegar o dia em que não

mais sentirei vergonha, pois a mudança haverá chegado, como

Um degrau subido e, aí então, o degrau anterior deixará de existir.

nouvellelune
Enviado por nouvellelune em 17/03/2010
Código do texto: T2143674
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